EUA: A SITUAÇÃO ACTUAL

Rascismo_pandemia

O racismo é uma pandemia!

Enquanto centenas de milhar de manifestantes continuam a manifestar-se contra a violência da Polícia nas ruas das grandes cidades norte-americanas, esta acaba de matar a tiro outro Negro desarmado, Rayshard Brooks, desta vez em Atlanta.

Face à magnitude das manifestações, os Democratas apresentaram um projecto de Lei para facilitar os procedimentos contra os agentes da Polícia culpados que, actualmente, gozam de uma quasi-imunidade (por exemplo, os queixosos têm de provar que a morte foi deliberada).

Este projecto de Lei prevê, igualmente: restringir a possibilidade de um polícia despedido por uma Agência da Polícia local encontrar emprego noutra Agência local; obrigar os polícias a terem uma formação sobre as condições do recurso à força e sobre os “preconceitos raciais” que, inconscientemente, possam orientar as suas acções; e, inclusivamente, reduzir ou suprimir o financiamento federal aos Serviços policiais que não respeitem uma certa ética.

A QUESTÃO POLICIAL

Uma parte dos Republicanos, os mais moderados, poderia aliás votar a seu favor. Mas este projecto de Lei destina-se a salvar um Sistema contra o qual se levantam hoje milhões de norte-americanos. Por outro lado, Trump acaba de anunciar que vai publicar um decreto para reformar a Polícia.

No mesmo movimento, o Conselho municipal de maioria democrata de Minneapolis, onde foi assassinado George Floyd, estaria disposto a votar a dissolução do seu Serviço policial. Mas esse Conselho deixa claro que haverá outro a substituí-lo, sem oferecer mais do que vagas indicações sobre esse novo Sistema, a não ser no que respeita a generalidades sobre a necessidade de recrutar polícias em todas as comunidades da cidade e psicólogos para fazer a gestão dos casos que o requeiram.

“Há que acabar com a Polícia!” – ouve-se gritar nas manifestações. Mas os Democratas tentam centrar o debate na Polícia com um único objectivo: tentar evitar qualquer contestação do conjunto do Sistema político norte-americano, baseada num racismo institucional, e fazer desaparecer as reivindicações de milhões de Negros norte-americanos sobre a sua situação económica, sobre a destruição do seu quadro de vida (a gentrificação/exclusão que atormenta muitos bairros populares do centro das cidades), bem como das escolas que são frequentadas pela maioria dos crianças. Sem se iludirem, muitos Negros dizem para si próprios que uma reforma da Polícia – mesmo sem resolver a questão do “racismo sistémico” – poderia, pelo menos, limitar a violência policial. Porque todos os Negros temem, por eles e pelos seus filhos, quando se cruzam com a Polícia.

O RACISMO SISTÉMICO

Em contrapartida, a propaganda do Partido Democrático sobre a reforma da Polícia tem por objectivo negar o “racismo sistémico”, que é um produto de História dos EUA, ou seja, da escravatura e da segregação. Os Negros não são imigrantes; eles foram arrancados à força do continente africano, reduzidos a escravos para construir os EUA. Eles estão no centro da nação norte-americana e, ao mesmo tempo, são a população mais oprimida. Fazendo sua esta propaganda dos Democratas, alguns grupos de extrema-esquerda, com um discurso radical, preconizam “um controlo popular da Polícia”! Deste modo, tratar-se-ia de pedir aos oprimidos para gerir “democraticamente” a sua repressão às mãos dos opressores! É a cobertura de esquerda dos Democratas.

OS DEMOCRATAS TAMBÉM NÃO

Com Obama, o primeiro presidente negro dos EUA, os Democratas detiveram a Presidência durante oito anos, dois dos quais com maioria em ambas as Câmaras, e outros quatro com uma maioria no Senado.

Nesses oito anos, a situação dos Negros piorou. As mortes de Negros às mãos da Polícia não diminuíram, enquanto a crise de 2008 deixou milhões deles na miséria. E o projecto de Lei que agora é apresentado, se fosse votado, não resolveria nada: mais umas quantas condenações policiais, se as houvesse… Mas o fundo racista da Polícia e do conjunto das instituições permaneceria.

Por outro lado, muitos presidentes de Câmara e governadores do Partido Democrata estão à cabeça da repressão contra as manifestações (de Blasio, em Nova Iorque, ou Lightfoot, em Chicago).

Os manifestantes sabem disso. Estamos a menos de cinco meses das próximas eleições presidenciais. Se as actuais manifestações colocam Donald Trump em dificuldade, trazem também à luz do dia o facto de que o Partido Democrata não melhorou a situação dos Negros norte-americanos.

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Crónica de Devan Sohier, publicada no semanário Informations Ouvrières – Informações operárias – nº 609, de 17 de Junho de 2020, do Partido Operário Independente, de França.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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