Macron e Merkel na conferência de imprensa (por vídeo)
em que anunciaram o seu novo Plano para a União Europeia.
A 18 de Maio, Macron e Merkel anunciaram, numa conferência de imprensa conjunta, as grandes linhas de um Plano de recuperação europeia de 500 mil milhões de euros. Estes 500 mil milhões de euros somam-se a outros 540 mil milhões de euros decididos pelos ministros das Finanças da Zona Euro (ver abaixo).
A particularidade deste Plano é que não consistirá em empréstimos aos Estados, mas sim em ajudas directas financiadas através de um empréstimo a ser efectuado pela Comissão Europeia.
Para que vão ser utilizados esses 500 mil milhões de euros? Ninguém pode duvidar que o irão ser para benefício dos patrões, quando se vê como na Alemanha, em França e no resto da Europa os ataques estão a aumentar contra os Códigos do trabalho e as conquistas dos trabalhadores, em especial no que se refere a férias, horário de trabalho, etc.
Este Acordo permite, entre outros aspectos, ajudar Merkel a superar a crise na Alemanha, nomeadamente no seu partido, a CDU, depois do acórdão do Tribunal Constitucional de Karlsruhe.
E este Acordo demonstra, mais uma vez, quem dirige realmente a UE, segundo a fórmula utilizada por Macron: “Um acordo entre a França e a Alemanha não significa um acordo a vinte e sete. Mas não há acordo a vinte e sete, sem acordo franco-alemão.”
Mas o acordo dos vinte e sete países-membros da UE ainda está longe de ser conseguido, uma vez que, a partir da noite de 18 de Maio, o chanceler austríaco, Kurz – em concertação com a Holanda, a Suécia e a Dinamarca – se distanciou do anúncio de Macron e de Merkel. Segundo o chanceler austríaco, a ajuda europeia deveria assumir “a forma de empréstimos e não de subsídios a fundo perdido”.
Em seguida, assistimos à tomada de posição das confederações sindicais alemãs e francesas que, a 20 de Maio, emitiram uma Declaração conjunta de apoio ao anúncio de Macron e de Merkel. É claro que, como medida de precaução, essa Declaração conjunta – assinada pela DGB (alemã), a CFDT, a CFTC, a CGT, a CGT-FO e a Unsa (francesas) – diz que é necessário “ir mais longe do que os 500 mil milhões de euros anunciados pela França e pela Alemanha”.
Mas, quanto ao resto, esta Declaração é um apoio global à proposta Macron-Merkel, quando sublinha “a importância de convencer os outros Estados-membros”, ou quando afirma que “os Estados-membros devem dar o seu aval a esta proposta franco-alemã”.
Portanto, Macron e Merkel sabem que podem contar com o apoio de todas as cúpulas dos Sindicatos franco-alemães para esta sua Declaração comum.
Por outro lado, não é surpreendente que muito pouca publicidade tenha sido dada aos militantes de base das organizações sindicais signatárias.
De facto, na Alemanha como em França, a generalidade desses militantes não está disposta a agir em conjunto com o Governo do seu país.
————————————-
Nova crónica sobre a União Europeia, de Daniel Shapira, publicada no semanário Informations Ouvrières – Informações operárias – nº 606, de 27 de Maio de 2020, do Partido Operário Independente, de França.