No dia 13 de Abril, o presidente da França, Emmanuel Macron, manifestou-se pela “volta ao trabalho do maior número possível de trabalhadores, visando recolocar em marcha a nossa indústria, o nosso comércio e os nossos serviços”.
Por essa razão, marcou para 11 de Maio a reabertura das escolas, contrariando as suas próprias declarações de 16 de Março, quando justificou o fecho para “proteger as crianças e os jovens, e diminuir os riscos de contaminação”.
O “presidente dos ricos”, como lhe chamam os franceses, está a fazer a vontade aos grandes empresários.
Tentando antecipar-se às críticas pela sabida falta de testes para os alunos e trabalhadores da Educação, ele saiu-se com esta: “Não tem nenhum sentido testar toda a população”.
O Governo mente, engana, manipula
Desde o início da pandemia, o Governo tem mentido sobre a chegada de testes e de máscaras, divulgando dados impossíveis de serem verificados, e multiplicando decretos para controlar a população e desmantelar direitos laborais.
Poderes exorbitantes são dados à Polícia e aos Departamentos, milhares de milhões são destinados aos banqueiros e empresários, enquanto os trabalhadores recebem apenas esmolas e o pessoal da Saúde sofre com falta de efectivos e de Equipamentos de protecção individual.
Cresce a indignação e a revolta contra o Governo
A raiva que já se vinha acumulando concentrou-se na oposição ao regresso às aulas.
Em poucos dias, dezenas de manifestos e de petições foram adoptados por pais de alunos e trabalhadores da Educação.
A maioria da população deseja sair da quarentena, mas todos rejeitam a abertura das escolas, pois sabem da incapacidade do Governo em garantir a segurança sanitária.
A generalidade dos professores preocupa-se com os prejuízos causados ao ano lectivo, mas recusam-se a colocar em risco a saúde das crianças e dos jovens, e dos próprios trabalhadores das escolas. E dizem: “Dar aulas não é ser ama-seca das crianças, para que os patrões tenham os seus trabalhadores de volta”.
O que muitos professores fizeram foi voluntariar-se no intuito de cuidar dos filhos dos trabalhadores do sector da Saúde, para que estes pudessem continuar o seu trabalho essencial.
Devido à reacção popular, o Governo adiou para 18 de Maio a reabertura do Ensino fundamental e para Junho a do Ensino secundário. Quanto ao Pré-escolar, a reabertura será feita a partir do dia 11 de Maio, dependendo da região. Mas o Governo também decretou que, a partir de 1 de Maio, os trabalhadores que estavam em quarentena cuidando dos filhos menores teriam de voltar ao trabalho, sob pena de terem descontos no salário!
A confusão pode aumentar ainda mais, pois, a pretexto de encontrar solução para o problema sanitário, fala-se em dividir as turmas ao meio e de alternar a presença dos alunos na escola.
E, tal como querem os patrões, as fábricas poderão reabrir a partir de 11 de Maio.
Determinados a enfrentar o Governo
Em Paris, os sindicatos dos trabalhadores do sector dos transportes denunciam que a volta às aulas tem em consideração apenas os interesses dos patrões e aumentará enormemente os riscos de contaminação.
Os ferroviários, os trabalhadores do Metro e os condutores de autocarros já hoje não dispõem de materiais básicos como máscaras, luvas e gel. As empresas transportadoras confessam que, por falta de meios materiais e de pessoal, não conseguirão exercer a necessária fiscalização para garantir o distanciamento social e o uso de máscaras pelos utentes nas estações, nas carruagens e nos autocarros.
Presidentes de Câmara de cidades como Cannes, Montepellier, Maisons-Alfort, entre outras, declararam desobediência à determinação presidencial e não reabrirão as escolas.
Os Sindicatos multiplicam reuniões e assembleias – ainda que à distância – para discutir a situação, reivindicar o respeito pelos direitos laborais e adoptar medidas de mobilização, inclusive apelos à greve, para fazer o Governo recuar.
Todos exigem uma coisa simples: se não há protecção para todos, se não há máscaras, se não há testes, então não haverá regresso às aulas!
Correspondente em França de “O Militante Socialista” (jornal sob a responsabilidade do POUS, Secção portuguesa da 4ª Internacional)