Trump ameaça de novo, frontalmente, o Irão.
O Irão é, sem dúvida, o país mais atingido, no Médio-Oriente, pela pandemia do Covid-19. Se o número de mortes é sem dúvida subestimado – uma vez que apenas as mortes hospitalares são contabilizadas – há, por trás dessa estatística, um país exangue. Os médicos, em particular, são afectados e têm uma taxa de mortalidade elevada: os hospitais não pagam os equipamentos de protecção em número suficiente, sendo os médicos a ter de suportar essa despesa.
Por outro lado, o salário mensal do pessoal de enfermagem não é sequer suficiente para pagar o equipamento de protecção necessário em cada dia de trabalho. Segundo os números oficiais, 6 mil milhões de dólares, o que corresponde a 20% do Orçamento anual do Estado iraniano, já foram utilizados na luta contra o Covid-19.
UMA ECONOMIA JÁ EXANGUE
A economia iraniana já estava exangue muito antes do Covid-19. O reatar do embargo decidido por Trump foi ainda mais reforçado desde 20 de Setembro de 2019; nessa altura, o Presidente norte-americano falava “das medidas mais duras alguma vez tomadas contra um país”. Medidas que têm consequências desastrosas para milhões de iranianos. Há mesmo produtos de primeira necessidade que chegam a faltar; a inflação atingiu 41%, no ano passado. O colapso dos preços do petróleo – um recurso fundamental para o país, e cuja exportação já se defrontava com as maiores dificuldades, por causa do embargo – não ajuda.
Como em toda a parte, a crise do Covid-19 é um acelerador da crise do capital, do Regime e da dominação do imperialismo. Embora o Irão não tenha aplicado um “confinamento” rigoroso, como aconteceu noutros países, é agora proibido mudar para outra cidade, foram encerradas lojas comerciais não essenciais, as empresas foram temporariamente encerradas e até o Parlamento suspendeu a sua actividade por seis semanas.
O MEDO DE UM COLAPSO GENERALIZADO
A proposta apresentada por 80 deputados, na primeira reunião do Parlamento do começo da crise, para implementar um confinamento total de um mês foi imediatamente rejeitada.
Perante o receio de um colapso da economia, o Governo tomou a decisão oposta, levantando a maior parte das suas medidas. As projecções do Banco Central iraniano apontam para mais 5 milhões de desempregados no futuro, o que corresponde a 20% da população activa. Com outras terríveis consequências num país onde uma economia informal, constituída por pequenas empresas não declaradas, está muito presente e é impossível de estimar.
Para evitar o colapso, o Regime dos mullahs suspendeu, portanto, as medidas de confinamento. Mas com essa acção ele está a assumir o risco de uma explosão da contaminação, de um aumento súbito do número de mortes, num país onde tudo falta.
O Governo iraniano solicitou um empréstimo ao FMI para a luta contra o Covid-19, com a bênção do Líder supremo. Apesar da situação sanitária catastrófica, os EUA opuseram-se, e o empréstimo continua actualmente bloqueado.
Isto porque a luta contra o Covid-19 no Irão tem um limite: o dos interesses do imperialismo norte-americano.
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Crónica de Kévin Cayeux, publicada no semanário Informations Ouvrières – Informações operárias – nº 601, de 23 de Abril de 2020, do Partido Operário Independente, de França.