Os trabalhadores da Saúde são agora enaltecidos por todo o poder político sem excepção.
Um poder político que não ousa tocar com um dedo nos serviços privados de Saúde, integrando-os na resposta nacional que o país exige. Os contratos que existem ou venham a existir, como o caso dos testes nos seus laboratórios, são pagos a preço de ouro.
Todos enaltecem agora aqueles com que pudemos e podemos contar, venha o que vier.
Eles dão corpo ao Serviço Nacional de Saúde. Contamos com todos os seus trabalhadores, independentemente das suas condições estatutárias, dos seus horários de trabalho (enfermeiros pagos a seis euros à hora), dos salários mínimos no pessoal auxiliar, dos técnicos de diagnóstico sem direito a uma carreira profissional.
A não resposta a todas estas legítimas e pertinentes exigências não os têm impedido de dar o seu melhor. Eles juntaram todas as suas capacidades e tempo de vida numa acção permanente e coordenada para que nada falte aos doentes que deles precisam, para não os deixar morrer.
Eis a força organizada no Serviço Nacional de Saúde, mesmo desfalcado ao longo de dezenas de anos, pela política de quem governa à conta da sobrevivência do capitalismo, cujas consequências deixam a Humanidade no estado de sofrimento atroz em que se encontra. Eles – dando corpo ao SNS, constituindo a força com que o povo trabalhador pode contar – mostram a vitalidade do 25 de Abril!
Tal como a mostram os engenheiros, os biólogos, os químicos e todos os outros investigadores ligados às Ciências médicas que – em vez de ficarem a olhar para as tremendas carências dos hospitais – mobilizaram as suas competências para, num trabalho de construção colectiva, servir quem está na linha da frente. E aí estão os testes, os ventiladores, as máscaras, as viseiras, as zaragatoas, as batas – os materiais tão necessários, que a incúria do poder político permitiu que não existissem ou fez depender da exploração do trabalho escravo praticado na China.
O seu desempenho está a ser feito a partir de empresas públicas ou privadas, mas tudo aqui vai no mesmo sentido.
Isto é a expressão da Revolução de Abril!
Uma expressão concreta que torna evidentes as grandes conquistas do 25 de Abril: trata-se da existência de uma geração de homens e de mulheres, cujas qualificações os habilitam a assumir o trabalho de reconstrução de todos os sectores de actividade do país e a dirigir a economia política que este processo exige.
As competências desta geração são o produto do outro pilar do 25 de Abril: a Escola Pública. Uma Escola que acabou com a regra de que ascender a uma qualificação superior só era possível para quem pertencesse a famílias abastadas.
Mas estes quadros técnicos e científicos não podem retomar a reconstrução do país sozinhos. Tal como a Escola pública ou o Serviço Nacional de Saúde foram feitos em conjunto com a mobilização de todos os outros sectores do povo trabalhador, também agora precisamos de nos ligar, sector a sector, na reconstrução do país. Isto será retomar o 25 de Abril!
Tal não é possível no quadro de uma unidade nacional, presidida pelo Presidente da República, que num dia recebe os banqueiros e os donos das grandes superfícies muito patrióticos (mas com a riqueza de que se apropriam colocada em paraísos fiscais!), e no outro decreta o Estado de Emergência, aprovado na AR por PS, PSD, CDS e BE. Um Estado de Emergência à sombra do qual milhares de trabalhadores estão despedidos, sem salários, e outros com os salários cortados em regime de lay-off.
Tem esta “unidade nacional” alguma coisa a ver com o 25 de Abril?
A gravidade da situação de pobreza, precariedade, desertificação e negócios parasitários – posta a nu por um vírus – não pode mudar através da união com quem é responsável por ela e, muito menos, sob a sua direcção.
A gravidade da situação não se compadece com promessas, nem com pequenas melhorias. Tal como não chegam as denúncias.
As respostas que os trabalhadores têm de dar à situação, agora mais que evidentes no Sistema de Saúde pública, exigem a retoma do caminho do 25 de Abril.
Carmelinda Pereira
Editorial de “O Militante Socialista” nº 148