A humanidade está confrontada com uma verdadeira catástrofe. Três mil milhões de seres humanos confinados, dezenas de milhares de mortos, milhões infectados e serviços de saúde a desmoronarem-se uns atrás dos outros.
O desenvolvimento exponencial da pandemia em todo o mundo não é fruto do acaso.
A sua explosão é o produto, por um lado, da política de saque imperialista que condena povos inteiros a uma miséria sem nome, em África e no Médio Oriente – países que já são pasto das guerras e intervenções militares imperialistas –, na Ásia, na América Latina… e, por outro lado, da política de ajustamento estrutural, ditada pelo FMI e aplicada aos povos dos países imperialistas desde a crise de 2008, que destruiu todos os sistemas de saúde pública, conseguidos com duras lutas.
Todos os dias há novas provas de que a crise que está a perturbar toda a economia mundial actualmente, começou muito antes do surgimento da pandemia, como estabelecem as Notas Editoriais da revista teórica da 4ª Internacional (Verdade n.º 105).
Nunca a falência de todo o Sistema se manifestou simultaneamente, com tanta força, à escala mundial
Nunca como hoje os representantes das classes dominantes, os governos e as instituições internacionais mostraram ao mundo o espectáculo da sua incapacidade para enfrentar as calamidades que eles próprios provocaram e das quais são os únicos responsáveis.
Nunca como hoje incarnaram – numa mistura de pânico, incompetência e diletantismo criminoso – o mortífero beco sem saída a que a humanidade inteira se vê arrastada pelos servos do capital financeiro, para quem a única lei é a da exploração sem limite dos trabalhadores, a da cotação das acções e os dividendos aos accionistas.
Nunca o insuportável espectáculo de “especialistas científicos” – repetindo ad nauseam que “se fez tudo o que podia ser feito, as máscaras eram inúteis…”, transmitindo os slogans mentirosos dos governos – tinha manifestado semelhante grau de servilismo em relação ao mundo da finança.
Nunca como hoje alimentaram tanto o assombro e a indignação.
A indignação de todos os povos confinados (1,4 mil milhões de indivíduos confinados na Índia) em “campos de concentração”, em favelas, em bairros de lata sem água, sem comida e condenados a uma morte lenta em absoluta indigência.
A indignação dos emigrantes do sul da Ásia forçados a ir trabalhar nas piores condições nas obras dos estádios construídos em verdadeiras marchas forçadas nos Emiratos do Golfo.
A indignação dos povos da Venezuela, do Irão e da Palestina sob embargo!
A indignação de todos os que são enviados para a “frente” nos países ricos, nos EUA, na Europa, sem máscaras e sem equipamento de protecção para combater a doença.
A indignação de todos os trabalhadores, recolectores de lixo, distribuidores de mercado-rias, caixeiros, carteiros… obrigados a assegurar, sem protecção, serviços indispensáveis à população.
Ao assombro dos primeiros dias sucedeu uma indignação e um ódio que se transformam em resistência por todo o lado. Disso são testemunho os combates empreendidos pelos trabalhadores – por todos os meios, incluindo a greve – em Itália, em França, em Espanha, no Brasil, no Chile, nos EUA, onde os trabalhadores da Amazon se recusam a continuar a trabalhar sem equipamento de protecção.
Uma resistência que se inscreve na continuidade e aprofundamento da revolta dos trabalhadores e dos povos que, durante meses – da Argélia ao Iraque, passando pelo Chile – exigem “que todos se vão embora”.
Incapazes de fornecer aos hospitais as indispensáveis máscaras, luvas, batas, ventiladores… em quantidade suficiente, os líderes imperialistas e os seus vassalos, em todos os continentes, proclamam-se chefes de guerra.
Nas velhas potências imperialistas europeias, apelam as Direcções do movimento operário à “união sagrada”. Declaram o estado de alarme, proíbem ajuntamentos, estabelecem o recolher obrigatório, suspendem as garantias do “Estado de direito” para dar mais um passo no caminho da destruição das liberdades democráticas, do desmantelamento dos Códigos do Trabalho – onde ainda existem – mas também da Segurança Social, do apoio ao desemprego e das pensões…
Enquanto os Bancos centrais inundam o mercado com biliões de dólares para salvar os monopólios imperialistas que seleccionam, milhões e milhões de homens e de mulheres atirados para o desemprego vêem-se ameaçados de tudo perder. Nos EUA inscreveram-se no desemprego dez milhões de norte-americanos, em duas semanas.
O Coronavírus – que os “grandes” chefes de Estado não souberam nem quiseram conter – é usado como pretexto para tentar destruir todas as conquistas das classes trabalhadoras, para proporcionar o trabalho escravo de que o Sistema imperialista em plena crise precisa para sobreviver… se podemos classificar como sobrevivência a crise mortal para a qual o capital arrasta a humanidade.
Uma enorme indignação está a unir os povos do mundo inteiro, contra os governos que se convertem em correias de transmissão do capital financeiro.
Uma imensa indignação apodera-se de toda a Europa: França, Alemanha, Espanha, Itália,… como de todos os outros continentes.
Indignação e revolta
A revolta está a espalhar-se. Apoia-se actualmente na Europa na mobilização dos profissionais da Saúde que – na primeira fila, face à incúria dos governos, dos ministros da Saúde e de todos os “especialistas burocratas” – fazem frente à doença.
Médicos, enfermeiras, auxiliares, pessoal das ambulâncias… há meses que lutam. Hoje, rejeitando a “união sagrada”, acusam o poder e organizam-se.
Eles provaram-no: não há solução possível, se não se arrancar o poder de decisão das mãos dos agentes do capital financeiro para que se requisitem as empresas para a produção de máscaras, testes, respiradores, oxigénio… e medicamentos, para que a investigação disponha das verbas de que precisa de maneira decisiva.
Eles demonstram, todos os dias, a sua capacidade para reorganizar todos os serviços de Saúde e os hospitais públicos ao serviço da população.
Rompendo todos os laços de subordinação – no que diz respeito aos objectivos de rentabilidade e de privatização – dizem que só eles podem abordar a situação, demonstrando a capacidade dos que produzem riqueza para responder às necessidades vitais da imensa maioria do povo.
O destino da civilização humana joga-se neste frente-a-frente.
Por um lado, a hecatombe que se abate sobre os povos, privados de tudo e condenados ao pior. Uma hecatombe que vai até ao centro da primeira potência do mundo, os EUA. O apocalipse nos hospitais europeus. A barbárie!
Por outro lado, a encarniçada resistência dos trabalhadores da Saúde, que dizem aos trabalhadores do mundo inteiro: há uma saída política e está a ser preparada.
Hoje não há tarefa mais urgente do que ajudar, em cada país, a que surjam esta indignação e esta resistência, para que elas abram o seu caminho e se estenda, ganhando todas as camadas da população e inscrevendo-se no quadro comum do combate dos trabalhadores e dos povos para acabar com o Sistema, para salvar a humanidade da barbárie para a qual o Sistema capitalista a arrasta.
Declaração do Secretariado Internacional da 4ª Internacional
4 de Abril de 2020