Salvar vidas tem de ser o lema que determina todos! Estará a ser assim? Uma análise para detectar o Coronavírus pode custar 200 euros!…
Investigadores portugueses dispõem-se a trabalhar nos laboratórios de investigação, podendo cada teste custar apenas o preço dos reagentes.
Ao mesmo tempo que as Ordens dos Médicos e o dos Enfermeiros pediam que fossem testados todos os trabalhadores da Saúde, para os defender a eles e àqueles que eles salvam, foi divulgado pela ministra da Saúde que o SNS tinha capacidade diária para a realização de 9000 testes de despiste do Coronavírus (1), enquanto os laboratórios privados teriam a capacidade de 17000 no total.
Esta realidade tem levado o Estado português a ter de contratualizar com os empresários privados contingentes de testes, bem como cidadãos individuais (nomeadamente médicos e enfermeiros) a pagarem o teste do seu bolso – perante a necessidade urgente de saberem se estão infectados – dada a dificuldade burocrática de aceder aos mesmos pela via do SNS.
E tem sido divulgado que o preço de um teste poder orçar entre 100 e 200 euros, no privado. Situação tão gritante que alguns jornais divulgaram, nas suas manchetes, estarem os laboratórios privados a ter um rendimento diário de 2,6 milhões de euros com esses testes!
Ao mesmo tempo, segundo notícia publicada na Newsletter Plataforma_Cascais (de 27 de Março), o Estado português – para salvar vidas humanas, na luta contra o tempo – contratualizou com hospitais privados o tratamento de doentes do SNS, pelo preço de 10500 euros cada internamento!
Estes hospitais exigem, entretanto, que “se o Estado quer que eles os tratem – ou seja, salvem os doentes nos seus serviços – este tem de pagar-lhes primeiro as dívidas”. Ao que consta, só relativamente ao Ministério da Defesa serão 60 milhões de euros em dívida.
Mas a realidade também tem outra face…
Investigadores do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa asseguraram, ao Público (de 24/3/2020), que dentro de alguns dias pretendem ter 300 testes diários disponíveis e, a breve prazo, chegar a 1000 por dia (apenas com um custo de 30 euros gastos em reagentes). O Público do dia seguinte (25/3/2020) dá conta que “está a haver um movimento espontâneo de investigadores (da área científica da Biologia) em todo o país – mais de 360 – que propõem a ligação dos laboratórios pertencentes aos Centros de investigação científica nacionais, onde eles trabalham diariamente”, redireccionando a sua investigação para a produção em massa destes testes.
Concluíram que estes laboratórios poderão produzir cerca de 10 mil testes diários para o SNS. Tudo dependerá da “luz verde” e apoio que seja dado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), responsável pela manutenção, financiamento e coordenação desses Centros de investigação. Nestas condições, o custo de tais testes seria apenas o dos reagentes a serem utilizados.
E o mesmo Público (de 25/3/2020) conclui: “Para ter uma noção da diferença que dez mil testes diários de diagnóstico poderão fazer, o stock actualmente existente em Portugal destes testes é de 27 mil — dez mil no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e 17 mil no sector privado.”
A situação de calamidade pública em que estamos mergulhados aguçará, também, a capacidade de reflexão e de iniciativa de cada um. E está, com certeza, a fazer com que toda a comunidade científica se organize para responder à pandemia.
Os caminhos abertos pela Revolução de Abril de 1974 permitem que Portugal tenha actualmente uma geração de cidadãos qualificados, em todas as áreas e em todos os sectores da sociedade. Trata-se de uma conquista de que todos nos orgulhamos.
Apesar dos golpes e das interrupções deste caminho – de que resultou a liquidação da maior parte do aparelho produtivo e a perda do controlo dos seus sectores estratégicos – esta geração não emigrou toda. Os que ficaram hão-de ser capazes de retomar esse caminho do desenvolvimento e do progresso social, começando pelas batalhas para impedir que morram milhares de pessoas.
———————————————-
(1) O Secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) desconfia destes números do SNS. “Se existissem efectivamente 9 mil testes por dia, a linha SNS 24 não demorava quatro dias a dar autorização a casos suspeitos, que estiveram em contacto com infectados e que tinham sintomas, para fazer o rastreio”, disse Roque da Cunha, ao Correio da Manhã (de 23/3/2020), acrescentando que “já deu para perceber que se forem 1200 os testes feitos pelo conjunto de hospitais públicos, é muito”.