Este título – que encabeça toda a capa do diário patronal francês Les Echos, de 13 de Março de 2020 – demonstra o seu alarme pela queda das Bolsas, pela crise geral do sistema produtivo. O Coronavírus não provoca a crise económica, mas põe-na a descoberto e acelera-a.
A fragilidade do sistema capitalista mundial em crise expressa-se de maneira brutal. O carácter parasitário da economia – a que chamam a “financeirização” – está submetido à menor vicissitude da situação mundial. Mesmo antes da declaração de pandemia, a economia mundial já estava à beira da ruptura, com a crise petrolífera e a queda do preço do barril, e com a guerra comercial de Trump declarada contra China e a União Europeia. Desde há vários meses que tem sido anunciada a chegada de uma nova crise financeira mais profunda que a de 2008. A pandemia é um acelerador desta crise.
É significativa a reacção dos governos das grandes potências imperialistas: Trump desbloqueia várias dezenas de milhares de milhões de dólares para salvaguardar as empresas dos EUA. O Fed, Banco Central dos EUA, desbloqueou 1,5 mil milhões de dólares para as empresas (os lucros dessas empresas ascenderam, no ano passado, a 2 mil milhões de dólares). Os governos da União Europeia – em particular da França, Espanha, Alemanha e Itália – fazem o mesmo. Em contrapartida, os trabalhadores são submetidos a novas medidas restritivas, ao desemprego e aos despedimentos, com uma diminuição – em qualquer dos casos – dos seus recursos para subsistir.
Esta crise põe a descoberto todos os aspectos reaccionários e putrefactos do sistema capitalista mundial. Basta ver como a destruição dos sistemas sanitários na Europa (eliminação de camas, supressão de postos de trabalho) coloca actualmente os hospitais à beira da implosão, com a impossibilidade de atender todos os doentes.
Nos EUA – onde não existe sistema de Segurança social – muitos norte-americanos vêem-se privados de qualquer acesso a cuidados de Saúde, e isto acontece na primeira potência imperialista do mundo.
E o que dizer de países como os africanos que, devido ao saque das grandes potências imperialistas, se encontram privados de verdadeiros sistemas sanitários, incapazes de poder cuidar da sua população?
Em todos os países, em nome da pandemia, os governos apelam à “união sagrada” (unidade nacional). Utilizando a pandemia, diz-se aos trabalhadores e às suas organizações que não é o momento de reivindicar, enquanto são entregues aos patrões milhares de milhões. Apela-se a que todas as organizações cerrem fileiras à volta do Governo, quer dizer, dos representantes dos capitalistas. Na Argélia, o Primeiro-ministro – em nome da pandemia – apela ao fim das manifestações. Em Espanha, proíbem-se as manifestações, mas as Igrejas podem continuar abertas.
A pandemia é um assunto sério, que devemos combater para preservar a humanidade; mas os governos – que procuram preservar o sistema capitalista – são incapazes de garantir a protecção da humanidade.
Este sistema capitalista, como é demonstrado pelo exemplo da Saúde pública (e é apenas um exemplo), é incapaz de garantir a defesa e a sobrevivência da humanidade. A sua política de pilhagem e de destruição de direitos provoca catástrofes humanitárias. O paludismo – uma doença que sabemos tratar – provocou 435 mil mortes em 2018 (80% delas na África sub-sahariana), por falta de meios financeiros e sanitários para tratar desses doentes.
O capital é a pilhagem e as guerras. Na Síria, com uma população de 20 milhões de habitantes, desde que as potências imperialistas desencadearam a guerra já houve 380 mil mortos e 6 milhões de refugiados.
Como afirmava a grande revolucionária alemã, Rosa Luxemburgo, a alternativa é clara: “Socialismo ou barbárie”.
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Crónica de Lucien Gauthier no semanário Informations Ouvrières – Informações operárias – nº 596, de 18 de Março de 2020, do Partido Operário Independente, de França.