Militantes em Portugal, organizados em torno do Jornal “O Militante Socialista”, impulsionado pela Secção Portuguesa da Quarta Internacional, subscrevem e fazem sua a carta dos seus camaradas de Espanha (do Partido Operário Socialista Internacionalista).
Os problemas com que estamos confrontados no nosso país e internacionalmente são os mesmos. Mais do que nunca, é unidos e em conjunto que podemos fazer frente aos que querem manter o caos e impedir uma nova saída para a Humanidade.
Carta aos militantes e simpatizantes da 4ª Internacional em Espanha
Estimados camaradas, estimados amigos e amigas,
Vivemos numa situação inédita. As consequências humanas, económicas, sociais e materiais da actual pandemia, a reacção caótica do Governo, de todos os governos europeus e das instituições internacionais estão a provocar uma situação de caos, desorientação e temor. Os meios de comunicação, de forma ultrajante, pretendem fazer recair a responsabilidade desta situação nos cidadãos e nos trabalhadores.
De facto, esta epidemia – como muitas outras pelas quais a humanidade já passou – tem solução médica. Mas os sistemas públicos de Saúde, que têm estado submetidos durante anos aos piores cortes – com a supressão de camas (só em Madrid 2000), de médicos, de enfermeiras, de equipamentos, estão à beira do colapso – só se mantêm pela abnegação e sacrifício dos profissionais da Saúde, tantas vezes atacados. A acrescentar a isto, a promoção da Saúde privada ou concertada – por parte da Administração central e das autonomias – reduziu e encareceu a capacidade de acolhimento de enfermos e de combate coordenado da epidemia. As grandes empresas farmacêuticas já estão a esfregar as mãos, a pensar nos lucros que irão obter com a venda das futuras vacinas.
O Governo, transbordado, tomou medidas que à partida favorecem as empresas (14.000 milhões de isenções fiscais dos 18.000 prometidos) e, além disso, o Estado de alarme limita as liberdades e direitos fundamentais, com excepção das Igrejas.
Para além destas questões, o afundamento económico em curso (veja-se a Carta Semanal desta 2ª feira) mostra a extrema fragilidade e decomposição do sistema capitalista, que se guia pela propriedade privada e a obtenção do lucro. E a extrema insolvência das instituições internacionais, como é o caso da União Europeia, incapaz de coordenar a acção dos países, ou da Organização Mundial da Saúde (OMS), transformada num lóbi das farmacêuticas.
Nesta situação, os empresários querem utilizar a seu favor, empreendendo uma vaga de despedimentos (na hotelaria e no turismo) e uma cadeia de EREs (Expedientes de Regulação do Emprego) no ramo automóvel: Nissan, Opel, Ford, Volkswagen, Seat… Está claro que pretendem fazer recair a crise sobre os ombros dos trabalhadores.
O Governo apela à “união nacional”, como se todos estivéssemos no mesmo barco… O que é falso: temos visto como, nestes últimos dias, milhares de burgueses fugiram de Madrid ou de Barcelona para as suas residências secundárias, para se protegerem da epidemia; enquanto a grande massa dos cidadãos se encontra desprotegida e imobilizada, com os filhos sem escola e ameaçados de despedimento.
É precisamente num momento como este que era de esperar que os sindicatos se pusessem à cabeça da defesa dos trabalhadores, em lugar de continuarem disciplinados às ordens do Governo. É quando, mais do que nunca, há que defender as reivindicações, exigir NENHUM DESPEDIMENTO, NENHUMA PERDA DE SALÁRIO e as restantes exigências elementares.
É evidente que vivemos dias de desorientação e, por vezes, de pânico. Sabemos que o Estado de Alarme (Emergência) procura, em última instância, proteger o Estado, a Coroa e os interesses privados do justo ódio que esta política irá desencadear.
Madrid, 15 de Março de 2020
A Comissão Executiva do
Partido Operário Socialista Internacionalista (POSI)