Este novo coronavírus (designado como Covid-19), aparecido na China no início de Dezembro e agora já detectado em mais de uma centena de países, tem lançado o pânico nos “mercados” mundiais, ao mesmo tempo que tem mostrado a debilidade dos sistemas de Saúde de quase todos esses países (como é o caso de Portugal, embora o número de casos detectados seja até agora muito diminuto).
A pequena revista de imprensa que seleccionámos é bem reveladora desse cenário.
A fragilidade da economia mundial
Segundo o jornal financeiro francês Les Échos, de 1 de Março: “Os mercados passaram pela sua pior semana desde a grande crise financeira. As Bolsas de Valores de todo o mundo caíram entre 11 e 12%, ao mesmo tempo que a propagação da epidemia de coronavírus está a acelerar. Nos mercados financeiros, o risco de um descontrolo desenfreado é real. Os mercados não tinham conhecido uma semana assim desde a crise financeira de 2008. Em alguns dias, todos os indicadores entraram no vermelho. São sinais de que o pânico tomou conta dos mercados mundiais. (…) No mundo, há cerca de 6 milhões de milhões de dólares de capitalização que desapareceram desde o início da semana. O problema é que, neste momento, os investidores não têm qualquer ideia sobre o impacto da epidemia nas contas das empresas.”
“O coronavírus não podia vir num momento pior para a economia mundial”
Já, na sua edição de 26 de Fevereiro, o Les Échos afirmava: “Não havia, no início do ano, espaço de manobra para qualquer acidente. E, apesar disso, o acidente aconteceu: o Covid-19 na China. A economia desse país está agora em ruptura. A produção de carvão diminuiu 38%, o que constitui uma catástrofe para a economia mundial. Na China estão concentradas cadeias de valor que representam 75% do crescimento do comércio a nível mundial. A produção mundial só aumentou 2,9%, em 2019 – o ritmo mais lento desde a crise financeira de 2008-2009 – ficando apenas a 0,4% do limiar de 2,5%, valor geralmente associado a uma recessão à escala mundial.”
Mais um dia negro na Bolsa de Lisboa. PSI-20 perde 2,5 mil milhões
Segundo Nuno Carregueiro, do Jornal de Negócios de 6 de Março de 2020: “A Bolsa nacional esteve a acompanhar mais uma sexta-feira negra nas bolsas mundiais, num contexto de aversão extrema dos investidores a activos de risco, devido à incerteza em torno do impacto económico da propagação do coronavírus.
O PSI-20 desvalorizou 3,85% para 4.671,5 pontos, com todas as cotadas em terreno negativo. A descida diária do índice foi a mais forte deste período de duas semanas de quedas avultadas nos mercados. Desta forma, a descida de hoje foi a mais acentuada desde 24 de Junho de 2016, quando as bolsas reagiram ao resultado do referendo do Brexit.
O índice português atingiu esta sexta-feira um novo mínimo desde Janeiro de 2019 e no acumulado de 2020 já regista uma queda de dois dígitos: -10,41%.
Só na sessão de hoje as 18 cotadas que integram o PSI-20 viram a sua capitalização bolsista baixar 2.572 milhões de euros (milhões “volatilizados”, num só dia, que representam mais de um quarto do OE para a Saúde de 2020).“
9 de Março: outro dia ainda mais “negro” nas bolsas mundiais
As bolsas europeias encerraram esta segunda-feira negra (9 de Março) com quedas acima de 5% e Lisboa com um trambolhão perto de 9% (mais de 5 mil milhões de euros no valor das acções – ou seja, nos dias 6 e 9 de Março, “volatilizou-se” na Bolsa de Lisboa um valor equivalente a cerca de 80% do OE para a Saúde de 2020). O coronavírus chinês instalou o pânico financeiro nos mercados, agravado pela guerra do petróleo entre a Arábia Saudita e a Rússia.
Por seu lado, Wall Street – a maior praça financeira mundial – fechou esta segunda-feira com a maior queda de sempre do índice Dow Jones, superior a 2000 pontos. A quebra percentual foi a segunda maior desde a crise financeira de 2008.
A derrocada nas bolsas, provocada por esta segunda-feira “negra”, derreteu 5 milhões de milhões de euros, a nível mundial… Quase um terço do PIB anual da maior economia mundial, a dos EUA!
“Caos anunciado” no SNS
O semanário Expresso, de 7/3/2020, afirma: “Com o número de casos da epidemia a aumentar em Portugal, profissionais apontam falhas nas medidas de contenção. As camas que existem já estão ocupadas, os materiais não chegam e os técnicos também não.”
Desabafo feito por um pneumologista, que faz eco do sentimento de muitos profissionais dos maiores hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) a quem caberá cuidar dos infectados: “Como é possível ser hospital de referência por decreto e sem qualquer reforço efectivo na capacidade técnica e humana, que se encontra nos limites para a actividade diária?” O qual, sem resposta, faz um lamento. “A quem tem de lidar cara-a-cara com o problema, resta a velha competência do desenrasca, acrescida das guidelines da sorte e do ‘Deus nos acuda’.”
O isolamento de casos suspeitos em sanitários de Centros de saúde já foi feito na pandemia de gripe A, em 2009. Mas nessa altura, apesar de tudo, o país estava mais bem preparado, garantem os profissionais de saúde. “Nos últimos dez anos, o SNS perdeu muitas camas e muito do seu capital humano mais experiente, pelo que é com tristeza que admito que a nossa preparação neste momento não é a mesma”, admite o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.
Por outro lado, a falta de recursos humanos não se limita à prestação de cuidados, começa antes, na fase crucial do aconselhamento e até do transporte. A linha SNS24 não responde a todos os que precisam — no dia de maior fluxo (2 de Março, com 13 mil chamadas), 25% dos contactos ficaram perdidos. E têm-se sucedido relatos de clínicos que não conseguem contactar a Linha de Apoio ao Médico para validar casos suspeitos. E quando conseguem, segue-se a espera pelo transporte pelo INEM e a Cruz Vermelha, que até esta semana tinham apenas sete ambulâncias exclusivas para o Covid-19 em todo o país.
E o Expresso, de 7/3/2020, conclui: “O Plano nacional de contingência está a ser elaborado e está em marcha o reforço das linhas telefónicas de apoio, do transporte e da compra de materiais. Resta saber se haverá reforço de profissionais e se será suficiente para enfrentar uma ameaça para a qual a OMS diz que nenhum sistema de saúde está preparado.”