As principais potências económicas mundiais apelaram – a 22 de Fevereiro, durante a Cimeira do G20 em Riade (capital da Arábia Saudita) – a “uma resposta coordenada para conter o surto de coronavírus, cujos efeitos, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), irão amputar o crescimento económico global em 0,1% este ano.”
E Kristalina Georgieva, Directora Executiva do FMI, declarou: “No nosso actual cenário de base, as políticas anunciadas estão a ser implementadas e a economia da China voltará ao normal no segundo trimestre. Como resultado, o impacto na economia será relativamente menor e de curta duração.
Mas também olhámos para cenários onde a propagação do vírus continua por mais tempo e à escala global, sendo as consequências no crescimento mais prolongadas.”
Quanto à China, que não enviou altos representantes a Riade, como resultado da crise interna de saúde, anunciou, também a 22 de Fevereiro, um declínio acentuado de novos casos de contaminação e de mortes adicionais relacionados com o coronavírus. Ela pensa, também, ser capaz de atingir o seu objectivo de crescimento económico este ano, apesar da epidemia.
No final da Cimeira de Riade, “o ministro japonês das Finanças declarou que quase todos os países do G20 tinham mencionado, durante a reunião, o risco decorrente do coronavírus, e que ele tinha advertido contra um sério impacto na economia se este vírus se espalhasse mais.”
Afinal em que é que ficamos? Em relação à epidemia do próprio coronavírus, a Comissão Nacional de Saúde da China declarou que se os esforços no país para conter a Covid-19 (coronavírus) estão a fazer “progressos positivos”, noutras partes do mundo o surto de infecções está a aumentar rapidamente, com picos na Coreia do Sul, no Japão, no Irão e na Itália, sugerindo que a epidemia se está a tornar numa pandemia, de acordo com os especialistas (South China Morning Post, 22 de Fevereiro). A partir de 27 de Fevereiro, o balanço provisório da epidemia do coronavírus Covid-19, a nível mundial, é de cerca de 2.800 mortos e mais de 82 mil pessoas infectadas, de acordo com dados reportados por 48 países e territórios. Existem oficialmente 78.959 casos na China, os quais geraram 2.744 mortes. Também são indicados 862 casos no Japão (7 mortes), 1146 na Coreia do Sul (13 mortes), 152 na Itália (14 mortes), 245 no Irão (26 mortos). Houve ainda 2 mortes em França, uma nas Filipinas e outra em Taiwan. Em Hong Kong, há 74 casos (3 mortes) e foi preciso uma greve de cinco dias, organizada pelo Sindicato do pessoal dos cuidados de saúde, para obrigar as autoridades a fecharem a fronteira com a China, a 3 de Fevereiro, o que a Coreia do Norte tinha já feito desde 22 de Janeiro.
“As consequências económicas da epidemia poderão ser mais assustadoras do que o próprio surto.” (Les Échos, 19 de Fevereiro)
O correspondente do diário francês Les Échos em Pequim relata: “A segunda economia mundial permanece em quarentena, paralisada pelo medo da epidemia de coronavírus e a avalanche de restrições decidida por autoridades em todo o país (…). Nas áreas industriais, as fábricas reabrem pouco a pouco (…). Mas elas estão muito longe de funcionar em plena capacidade (…). As medidas de quarentena, as estradas bloqueadas e o medo de apanhar o vírus está a bloquear milhões de trabalhadores. As autoridades temem os riscos de contaminação nas linhas da produção (…). As autoridades proibiram os despedimentos por causa da epidemia de vírus (…). Um terço das PME chinesas entrevistadas disseram que não poderão aguentar-se mais de um mês com o actual dinheiro em caixa, outro terço pensa que poderá continuar por dois meses e apenas 18% poderá durar três meses. «As consequências económicas da epidemia poderão ser mais assustadoras do que o próprio surto», advertiu recentemente Huang Qifan, ex-prefeito da mega-cidade de Chongqing e arquitecto das reformas do sector financeiro de Xangai na década de 1990.”
A produção de automóveis está ameaçada
“A província de Hubei, que concentra 7% da capacidade de produção de automóveis do país, permanece parada. O que poderá fazer parar a produção em todo o mundo.” (Les Échos, idem).
Alguns números relativos à parte da China na produção de automóveis a nível mundial: nas vendas da Volkswagen (40%), da General Motors (40%), da BMW e da Daimler (30%).
Diminuição da produção automóvel a nível mundial, nos últimos 3 meses: – 11%.
Queda esperada do mercado automóvel, de acordo com a Associação dos fabricantes CAAM, na primeira metade deste ano de 2020: – 10%.
E o jornal francês Le Figaro (19 de Fevereiro) informa que, relativamente ao fabricante de automóveis Jaguar-Land Rover britânico (JLR), o grupo de carros tôpo de gama – que pertence à empresa indiana Tata Motores – lançou o aviso de que poderiam estar a faltar-lhe peças sobressalentes daqui a duas semanas. “Estamos providos para esta semana e a seguinte, mas para a terceira semana irão faltar-nos peças”, afirmou Ralf Speth aos jornalistas, ao lançar um veículo eléctrico autónomo, a 18 de Fevereiro, em Coventry (centro da Inglaterra). “Isso representa um risco para a nossa produção”, alertou ele, tendo o jornalista do Financial Times concluído que as fábricas deste grupo poderão ter que parar no final deste mês.
Espera-se também que o coronavírus tenha um impacto negativo sobre as remessas de equipamentos para a indústria tecnológica. Dado que a maioria das empresas tecnológicas depende fortemente da fabricação e de componentes provenientes da China, não é surpreendente que os pesos pesados desta indústria, tais como a Apple e a Xiaomi, tenham anunciado publicamente que o surto de Covid-19 afectará os seus resultados no trimestre em curso.
No respeitante ao transporte aéreo, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) fez as suas contas. A epidemia do novo coronavírus 2019 deverá ter um impacto severo no tráfego aéreo mundial, estando o epicentro da crise obviamente na Ásia… Isto resultará numa perda de receitas de 27,8 mil milhões de dólares em 2020, de acordo com a IATA, para as transportadoras da região Ásia-Pacífico. Só as empresas chinesas representariam 46% desta perda total, com um valor estimado em 12,8 mil milhões de dólares, considerando unicamente o mercado interno chinês. Com base na mesma hipótese da IATA, as transportadoras fora da região Ásia-Pacífico deverão registar uma perda de receitas de 1,5 mil milhões de dólares, assumindo que a queda na procura seja limitada apenas a contratos relacionados com a China. Isto resultaria numa perda total de receitas de 29,3 mil milhões de dólares para as companhias aéreas de todo o mundo… A contracção estimada no crescimento global do transporte aéreo em 2020 deve rondar os -0,6%.
Conclusão
Não são todos estes factos os sinais precursores de uma futura e profunda contracção da economia mundial, expressão de uma crise do sistema capitalista global, ainda mais devastadora do que a de 2008?
ÚLTIMA HORA
Coronavírus arrasa bolsas para mínimos de quatro meses
“As bolsas europeias recuaram para mínimos superiores a quatro meses e o crude para a cotação mais baixa em mais de um ano, devido à preocupação crescente quanto à evolução e impacto do Covid-19.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que se está a chegar ao ponto em que a epidemia do coronavírus poderá mesmo assumir proporções de pandemia global, o que está a agravar a preocupação dos investidores quanto ao impacto do vírus chinês para a evolução da economia mundial.” (Jornal de Negócios, 27/2/2020)
————————————-
Notícia elaborada com base na análise de Albert Trap, publicada no semanário Informations Ouvrières – Informações operárias – nº 593, de 26 de Fevereiro de 2020, do Partido Operário Independente, de França, tendo em conta os dados mais recentes do surto divulgados a nível mundial.