O primeiro caso de pneumonia provocado pelo novo tipo de coronavírus em Wuhan (China) apareceu a 8 de Dezembro. Depois, 5 dos 11 milhões de habitantes deixaram a cidade e a epidemia espalhou-se pela China e por outros países. Mas o mercado ilegal de carnes que a teria originado só foi fechado a 1 de Janeiro. Porquê?
A Organização Mundial de Saúde, que trabalha com dados dos governos, só pôde declarar a 30 de Janeiro o estado de emergência internacional em Saúde pública. Uma semana depois, já havia mais de 700 mortos pela epidemia, 20 mil infectados e 200 mil sob observação, enquanto 60 milhões estavam confinados.
Como foi possível uma tragédia como esta?
A imprensa chinesa é controlada pela burocracia dirigente. Mas o próprio jornal do PC chinês Global Times (27.1.2020) relata uma entrevista da TV onde “o prefeito de Wuhan, Zhou Xianwang, afirmou que ele e o Secretário do Partido da cidade estavam prontos a renunciar aos cargos se isso ajudasse a conter o novo coronavírus”. Ele “também reconheceu que as informações não tinham sido divulgadas, em tempo oportuno, na fase preliminar. Mas Zhou pediu compreensão, pois o Governo local só poderia divulgar as informações após obter autorização do Conselho de Estado.”
Por que é que “8 médicos que falaram do assunto num grupo de discussão online foram chamados para depor à polícia acusados de espalhar ‘rumores’ falsos” (O Estado de São Paulo, 4/2)? A agência oficial Xinhua também alertou, inicialmente, a população a não dar ouvidos a “rumores”. A conduta dos polícias foi depois censurada pela Suprema Corte de Pequim. Mas algum alto responsável foi efectivamente punido?
Segundo o mesmo Global Times, “numa conferência de imprensa, o prefeito Zhou declarou que a procura de roupas de protecção, máscaras e outros materiais para Wuhan tinha diminuído, contradizendo a declaração do Governador da província (Hubei), Wang Xiaodong, na mesma conferência, de que a falta de material médico era o problema mais urgente”. A contradição provocou a indignação pública, muitos questionando os dirigentes sobre o atendimento médico.
O primeiro-ministro Li Keqiang assumiu directamente o caso. O Estado agora mobilizou os seus importantes recursos técnicos, médicos e científicos, além da propaganda habitual. Mas a questão de saber “como foi isto possível?”, vai muito para além do que a burocracia reconhece.
O jornal Valor regista que “numa incomum reunião de líderes do PC, em tom de advertência, o presidente Xi Jinping alertou que a eventual demora na resposta ao surto pode causar impactos directos na estabilidade social, informou a agência oficial Xinhua (4/2)”, acrescentando que “aqueles que desobedecerem às orientações do Governo central serão punidos”. A culpa costuma ser sempre do outro…
A imprensa já especula sobre as consequências na economia do planeta. Certamente haverá consequências políticas.