A 31 de Janeiro, o Reino Unido deixou oficialmente a União Europeia. É o Partido tradicional representando o capital financeiro, o partido de Thatcher, que tem hoje a tarefa de implementar o voto popular de 23 de Junho de 2016 para a saída da UE (Brexit).
Os milhões que votaram a favor do Brexit em 2016 – em particular no norte e centro de Inglaterra, bem como no País de Gales – fizeram-no votando contra todos aqueles que puseram em prática políticas de privatização e de empobrecimento. Este resultado marcava a profundidade da rejeição que atingia todos os partidos e todas as instituições.
É a política de submissão à UE dos líderes do Partido Trabalhista, de Corbyn e dos dirigentes dos principais sindicatos – desrespeitando o mandato popular – que constituiu a causa do seu fracasso estrondoso nas últimas eleições.
Atrás da “laminagem mecânica” daquele que “finalizou o Brexit” (o slogan da campanha de Johnson, Get Brexit done), há o medo desta rejeição que está sempre presente. É nesse sentido que deve ser entendido o anúncio do aumento de 6% no salário mínimo, assim como os numerosos anúncios de investimento em infra-estruturas e serviços públicos (em particular nos hospitais), ou ainda a renacionalização temporária da rede ferroviária do norte. E, ao mesmo tempo, Johnson considerou necessário que – para financiar os seus projectos – cada ministério faça 5% de corte em orçamentos “não-prioritários”.
Para os sectores do capital que tenham apoiado o Brexit, ou aqueles que foram compelidos a fazê-lo, a ruptura com Bruxelas deve ser uma oportunidade para redefinir as relações do Reino Unido com os seus concorrentes imperialistas. Mas Johnson deve fazer face a uma economia europeia há muitos anos em desaceleração e a uma economia britânica atingida pela queda dos investimentos e, tal como o resto da Europa, pela destruição do que lhe resta de bases industriais.
Desde 1995 e do desmantelamento da Companhia ferroviária nacional, os preços não pararam de aumentar, a rede deteriorou-se e os atrasos afectam um em cada dois comboios na linha do Norte. O sistema de concessões permitiu que haja empresas privadas a ganhar muito dinheiro com a manutenção da rede, com o Estado a acumular uma montanha de dívidas. A tomada temporária de controlo do Estado tem, portanto, como objectivo empreender uma reforma profunda do sistema de concessões sem pôr em causa a privatização.
Johnson também está a enfrentar a subida da exigência de um referendo para a autodeterminação da Escócia, e outro para a reunificação da Irlanda (onde as eleições gerais antecipadas foram convocadas para 8 de Fevereiro).
Os desacordos entre Londres e Washington
põem em perigo o Acordo comercial
O que também mudou, desde 2016, foi a posição do imperialismo norte-americano perante os seus “aliados” europeus, após a eleição do Trump. Há alguns dias, durante a visita do Secretário de Estado (equivalente a ministro dos Negócios Estrangeiros) dos EUA a Londres para discutir um futuro Acordo comercial entre os dois países, Mike Pompeo denunciou vigorosamente a decisão de Johnson – no seguimento de outros países europeus – de permitir que o gigante chinês dos telemóveis (Huawei) participe na construção de uma Rede de Telecomunicações 5G.
A Huawei é acusada por Trump de trabalhar para os Serviços Secretos da China e exigiu que ela fosse excluída do consórcio construtor das novas redes 5G na Europa. Isto surgiu apenas algumas semanas após o ataque dos EUA ao Irão, perante o qual Johnson e os chefes de Estado da França e da Alemanha se recusaram a alinhar com Trump, o qual exigiu que eles denunciassem o Acordo nuclear com o Irão e alinhassem num endurecimento imediato das sanções económicas contra esse país.
Outro pomo de discórdia é o projecto, apoiado pelo Reino Unido, para tributar as grandes empresas digitais norte-americanas. Portanto, a rápida conclusão de um Acordo comercial com os EUA parece estar comprometida, embora tal Acordo constitua o coração da estratégia dos Conservadores para libertar o Reino Unido das restrições da UE à assinatura de acordos bilaterais de comércio livre.
Em muitos sectores, incluindo a indústria automóvel, as empresas duvidam que tal Acordo contribuísse para salvar a indústria automóvel britânica. Muito pelo contrário, a interdependência extrema das cadeias de produção de todos os países europeus significa que o menor obstáculo no fluxo livre do tráfego de mercadorias ameaça sectores inteiros da produção no Reino Unido.
Mas tal como não haverá salvação para a indústria, os serviços públicos e os hospitais britânicos ao lado de Trump e o seu “Os EUA em primeiro lugar”, a tábua da salvação também não está do lado da UE e dos seus governos, os quais, acelerando a política já consagrada no Tratado de Maastricht, estão empenhados numa destruição total de todas as conquistas dos trabalhadores, de que Macron em França é o símbolo.
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Análise do nosso correspondente do Labour News (Notícias do Trabalho), que é um Boletim editado por militantes do Labour Party (Partido Trabalhista) simpatizantes da 4ª Internacional.