Trump no Fórum de Davos

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À margem da Cimeira de Davos, Trump disse à cadeia norte-americana CNBC: “O meu primeiro objectivo era tratar da China. E, em seguida, ocupar-me do México e do Canadá. Mas agora que isso já está feito… nós vamos ocupar-nos da Europa.” Na verdade, mal a guerra comercial com a China conheceu uma trégua e o Tratado destinado a substituir o NAFTA (1) foi ratificado pelo Congresso dos EUA Trump decidiu atacar a Europa.

As primeiras escaramuças já foram suficientes para fazer recuar o governo de Macron na sua taxa sobre os GAFA (2), que visava fazer cortes nos lucros das empresas que operam em França via Internet. Bruno Le Maire, ministro da Economia francês, anunciou o adiamento desta medida.

Mas esta taxa não é o mais importante do problema. O mercado dos EUA está saturado: para dar apenas um exemplo, o gás extraído ao mesmo tempo que o petróleo de xisto não encontra comprador no mercado, ao ponto de ter atingido um preço negativo no Texas (Les Échos, 22 de Janeiro de 2020): as indústrias petrolíferas pagam para se verem livres desta superprodução. As grandes empresas norte-americanas precisam de encontrar novos mercados para manterem os seus lucros. Na economia mundial actual, isso significa entrar em concorrência frontal com as empresas, em particular as dos países europeus, que detêm estes mercados.  O que implica acabar com todas as barreiras alfandegárias às importações vindas dos EUA.

Em 1944, o domínio económico dos EUA foi garantido pelo Acordo de Bretton Woods – que foi estabelecido para reconstruir a economia da Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial e salvaguardar a própria existência de um mercado europeu (e mesmo mundial, numa altura em que os países europeus ainda estavam a colonizar o essencial da África e de grande parte da Ásia). Esse Acordo fez do dólar a única moeda convertível em ouro, tendo o domínio dos EUA sendo ainda reforçado pelo fim desta convertibilidade em 1971.

UM EQUILÍBRIO DE PODER QUE TRUMP TENTA MODIFICAR

Trump ataca toda esta construção, para permitir que o imperialismo norte-americano tire todos os benefícios desta sua posição dominante. É assim que Trump declara (como foi relatado pelo jornal Les Échos, a 23 de Janeiro): “A OMC (3) tem sido injusta para os EUA há muitos anos. Nós vamos propor uma reforma espectacular.” A OMC não é justa nem injusta: ela exprime, a cada momento, uma relação de forças entre os diversos imperialismos. É esta relação de forças que Trump está a tentar modificar a favor da economia norte-americana.

É este o significado da iniciativa de Trump quando ameaça impor uma taxa de 25% à importação de automóveis da União Europeia (é a Alemanha que é particularmente atingida) se não obtiver a eliminação de todas as taxas sobre os GAFA que os diversos países europeus estão a propor, bem como da cobrança de toda uma série de taxas europeias sobre as importações vindas dos EUA.

A 31 de Janeiro haverá o Brexit, e os EUA estão a encarar a possibilidade de negociarem com o Reino Unido um Acordo especial de Comércio.

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(1) O Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (em inglês: North American Free Trade Agreement, NAFTA) é um tratado envolvendo o Canadá, o México e os EUA.

(1) GAFA é a sigla dos gigantes da informática Google, Apple, Facebook e Amazon.

(3) Organização Mundial do Comércio, fundada em 1994 como resultado do Acordo Geral sobre as Taxas aduaneiras e o Comércio, de 1947.

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Análise, da autoria de Devan Sohier, publicada no semanário Informations Ouvrières – Informações operárias – nº 589, de 29 de Janeiro de 2020, editado pelo Partido Operário Independente, de França.

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