HONG KONG: CONTINUAÇÃO DAS MANIFESTAÇÕES CONTRA A REPRESSÃO POLICIAL

Exigencias_Hong_Kong

A 20 de Dezembro, milhares de habitantes de Hong Kong concentraram-se para exigir a libertação dos 79 manifestantes pró-democracia presos no Centro de Detenção Lai Chi Kok.

Milhares de pessoas de Hong Kong concentraram-se na sexta-feira, 20 de Dezembro, ao apelo dos parlamentares e dos conselheiros distritais pró-democracia, nos passeios de Butterfly Valley Road, para apoiar os detidos no Centro de Detenção Lai Chi Kok. Esta manifestação, que não tinha levantado quaisquer objecções da Polícia, desenrolou-se pacificamente (segundo o South China Labour Bulletin, de 21 de Dezembro).

Na véspera, dia 19 de Dezembro, a Polícia de Hong Kong tinha prendido quatro pessoas da Associação sem fins lucrativos “Spark Alliance HK” – que é uma organização de recolha de fundos para apoiar iniciativas de manifestantes pró-democracia – por suspeita de “lavagem de dinheiro”.

Como resultado, houve manifestantes que se concentraram nesse mesmo dia, na Praça de Estátua, em frente à Sede do HSBC – o Banco que fechou a conta da “Spark Alliance HK” – ostentando cartazes a pedir provas de que os 70 milhões de dólares de Hong Kong (cerca de 7,7 milhões de euros) congelados eram fundos ilícitos. A multidão gritou slogans, cantou o hino Glória a Hong Kong e apelou ao Governo para responder às “Cinco exigências”, incluindo uma investigação independente sobre a violência policial (Hong Kong Free Press – HKFP, 20 de Dezembro).

No dia 21 de Dezembro, as quatro pessoas presas foram libertadas sob fiança.

APOIO DE XI JINPING A CARRIE LAM

Nesta situação, a HKFP (20 de Dezembro) dedicou algumas linhas ao vigésimo aniversário do regresso de Macau à China, realçando em particular a presença nesse acto do Presidente chinês (Xi Jinping) e da Presidente do Governo de Hong Kong (Carrie Lam). Xi Jinping declarou que o Governo central (da China) apoia totalmente o “próximo passo” proposto por Carrie Lam, de acordo com a Agência oficial chinesa Xinhua, se bem que nenhum dos dois governantes tenha revelado detalhes sobre o Plano. Carrie Lam tinha acabado de encontrar Xi Jinping, em Pequim, no dia 16 de Dezembro.

Mas a rede de televisão de Hong Kong “i-Cable” – citando fontes de acordo com as quais o Plano não inclui a modificação da controversa Lei de Segurança nacional relacionada com o artigo 23 da Lei Básica (1) – recorda que, em 2003, foi feito um projecto de modificação desse artigo, rejeitada por manifestações massivas que levaram o Governo da Região Autónoma a abandonar o projecto.

“SEM ESCAPATÓRIA” PARA O PRESIDENTE DO SINDICATO PRÓ-PEQUIM DE HONG KONG

No entanto, no jornal Global Times (21 de Dezembro) – ligado ao PC chinês, mas menos diplomático do que a agência Xinhua – pode ler-se: “Tendo em conta as perturbações sociais que duram há meses, a adopção do artigo 23 poderia embater numa parede de oposição, disse Stanley Ng Chau Pei, Presidente da Federação dos Sindicatos de Hong Kong (HKFTU). Mas ele notou que a segurança é de vital importância para o país – em relação à qual o Governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK) tem responsabilidade legal, e não deve deixar essa questão tornar-se numa escapatória.

Se Hong Kong não puder seguir o exemplo de Macau para fazer as suas próprias leis, o Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional deveria pensar numa outra forma de adoptar estas leis, em conformidade com a Lei Básica, disse Ng Chau Pei.”

XI JINPING ESPERA QUE OS SECRETARIADOS E DEPARTAMENTOS GOVERNAMENTAIS “CUMPRIRÃO O SEU DEVER”

Nesta situação de sete meses de manifestações pela democracia, a Xinhua explicou que Xi Jinping espera que, sob a direcção da Chefe Administrativa de Hong Kong, os secretariados e departamentos do Governo “farão o seu dever e trabalharão juntos” para resolver as questões locais.

Isto parece confirmar que, para além da Polícia, a Administração de Hong Kong não está a conseguir aplicar as directivas repressivas de Pequim.

Aliás, esta relutância vem de cima, pois a HKFP (20 de Dezembro) informou, com um certo gozo, que “num banquete organizado pelo Governo de Macau e transmitido pela televisão, na noite de 19 de Dezembro, o marido de Carrie Lam, Lam Siu-por, não aplaudiu a Ode à Mãe Pátria. Mas outros viram Carrie Lam e o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, aplaudirem em uníssono a canção patriótica da China.”

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(1) A 1 de Julho de 1997, o Reino Unido reentregou Hong Kong à República Popular da China. Nessa altura, foram dadas garantias, nomeadamente de preservação das liberdades individuais – sob a forma da doutrina de “um país, dois sistemas” –, estabelecidas na chamada Lei Básica de Hong Kong, uma Constituição negociada antes dessa entrega.

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Análise de Albert Tarp, publicada no semanário Informations Ouvrières – Informações operárias – nº 585, de 27 de Dezembro de 2019, do Partido Operário Independente, de França.

 

 

 

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