A Cimeira da NATO realizou-se a 3 e 4 de Dezembro. Esta Cimeira era a do 70º aniversário da criação da NATO (1). Mas este septuagésimo aniversário não foi realmente o das festividades, tanto assim que Trump saiu antes do fim, cancelando a sua conferência de imprensa final.
Esta Cimeira da NATO foi um reflexo da crise que abala os vários governos imperialistas.
A Declaração final, unânime, pode bem falar de “solidariedade, unidade e coesão”, mas esta Cimeira foi tudo menos a “da coesão e da unidade”.
Ela tinha sido precedida por vários incidentes:
– Por um lado, novas medidas de guerra e ameaças dos EUA de impor direitos aduaneiros a 2,4 mil milhões de dólares de produtos franceses, em retaliação ao imposto francês sobre as multinacionais digitais, as chamadas GAFA (Google, Amazon, Facebook e Apple).
– Por outro lado, uma guerra de palavras entre Macron, Erdogan (o Primeiro-ministro turco) e Trump. Macron, para protestar contra a intervenção militar da Turquia no norte da Síria, tinha declarado que a NATO estava “em estado de morte cerebral”. Isto tinha provocado uma resposta de Erdogan, acusando Macron de estar ele próprio “em estado de morte cerebral”. Trump interferiu nessa polémica, condenando as observações de Macron e chamando-lhes “muito insultuosas”.
A Turquia tinha ameaçado não assinar a Declaração unânime, se esta não satisfizesse a sua definição de “terrorismo” em relação às milícias curdas. E Macron, pelo seu lado, declarou, na abertura da Cimeira, “não ser possível consenso” com a Turquia sobre a definição de terrorismo. Finalmente, foi encontrado consenso na Declaração final, unânime, condenando o terrorismo “sob todas as suas formas e em todas as suas manifestações”.
A QUESTÃO PRINCIPAL: “A PARTILHA DOS ENCARGOS”
Mas o essencial da Cimeira da NATO não era esse. O principal objectivo da Trump era obter um aumento das despesas militares dos membros da NATO. Esse aumento tinha sido exigido, ainda em 2014, por Obama, tendo-se os países-membros comprometido, nessa altura, a dedicar 2% do seu PIB aos gastos militares, em 2024. A fim de rever a “repartição dos encargos” no que se refere às despesas militares, Trump fez desse assunto o tema principal da Cimeira da NATO. Porque apenas 9 dos 29 membros da NATO gastaram 2% do seu PIB com as suas despesas militares em 2019, e se um aumento ocorreu de facto, Trump achou que era insuficiente, afirmando: “Existem ainda muitos maus pagadores, e isso é injusto”, citando nomeadamente a Alemanha, que se propõe gastar apenas 1,42% do seu PIB em 2020.
Este objectivo de 2% é considerado, por muitos Estados, como um encargo exorbitante, neste período em que a austeridade e a destruição de conquistas sociais, quando não levam ao levantamento de milhões – como em França, desde 5 de Dezembro – têm, de qualquer forma, despertado a raiva dos povos em todo o lado.
A razão para a súbita saída de Trump da Cimeira da NATO (há um vídeo mostrando Trudeau – Primeiro-ministro do Canadá, Macron e outros a rirem-se de Trump) é, em si mesmo, aparentemente irrisória, mas no fundo expressa a crise que está a abalar as cúpulas do imperialismo.
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(1) A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN, NATO na sigla inglesa) foi criada em 1949 como uma coligação militar reunindo – sob a égide dos EUA – o Canadá e 27 Estados europeus, uma coligação fundada contra a URSS, nessa época, e que serviu de força militar, em vários teatros de operações, incluindo a antiga Jugoslávia.
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Crónica de Lucien Gauthier, publicada no semanário Informations Ouvrières – Informações operárias – nº 583, de 11 de Dezembro de 2019, do Partido Operário Independente, de França.