Comité Internacional de Ligação e Intercâmbio (CILI)

Meeting_AIT_30_11_2019

O Secretariado do POUS (organização ligada ao AIT – Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos) decidiu divulgar esta Declaração do 2º Encontro do CILI, dada a importância e dimensão internacional desta iniciativa. A imagem corresponde ao Comício realizado a 30 de Novembro, no final do Encontro do CILI, em que participou uma delegação portuguesa.

Declaração

saída do 2º Encontro do CILI (1)

de 28, 29 e 30 de Novembro de 2019, em Paris

 

Contra a guerra, a exploração e a repressão,

os povos querem viver!

 O segundo Encontro do Comité Internacional de Ligação e Intercâmbio (CILI) – constituído, por proposta de Louisa Hanoune, aquando da Conferência mundial aberta de Argel em 2017 – teve lugar em Paris a 28, 29 e 30 de Novembro de 2019.

É numa situação marcada por uma ofensiva destruidora do imperialismo e pelo levantamento dos povos de numerosos países que se reuniram os delegados de 4 continentes.

As intervenções do conjunto dos delegados sublinharam as consequências destruidoras da decomposição gerada pelo capital financeiro, os trusts e os monopólios, e os governos ao seu serviço. A crise do sistema provoca, à escala mundial, dezenas de milhões de supressões de empregos, a miséria, a precariedade, a fome, a situação em que vivem as mulheres e os jovens, a guerra, com orçamentos para o armamento que aumentam consideravelmente. Assim como a destruição sem precedentes do meio ambiente pelo capital (nós ouvimos os delegados das últimas colónias francesas das Caraíbas denunciar o crime colonial respeitante ao envenenamento destas ilhas com clordecone).

Ouvimos os delegados do Continente africano. As intervenções militares imperialistas, nomeadamente as dos EUA, da França e da NATOdesencadeadas a pretexto de luta contra o terrorismosão, na realidade, guerras pelo controlo e pilhagem do gás, do petróleo e das riquezas naturais. O Continente africano é devastado pelo domínio dos monopólios, dos trusts e dos governos das grandes potências que estão ao seu serviço, os quais multiplicam o número de bases militares, participando no massacre das populações africanas. Estas intervenções militares ameaçam desmantelar completamente numerosos Estados, tais como os do Sahel, depois de já terem desmantelado a Síria, o Iraque, o Iémene, o Afeganistão, etc..

Elas agravam ainda mais a miséria provocada por décadas de planos de ajustamento estrutural, de privatizações e de liberalização desenfreada.

Estas intervenções atiram para as estradas do exílio milhões de crianças, de mulheres e de homens entregues à voragem de todos os traficantes. Na Europa, tal como nos EUA, os “migrantes” são perseguidos pela polícia dos respectivos governos e encerrados em acampamentos, quando a sua sobrevivência exige que lhes seja reconhecido o direito a deslocarem-se para o país da sua escolha.

Os delegados presentes nesta segunda reunião do CILI apoiam o combate dos povos de África, do Médio Oriente e da Ásia, que querem a retirada de todas as tropas estrangeiras e se batem pela reconquista da sua soberania e dos seus direitos.

Perante esta marcha para a barbárie que o capitalismo provoca, há uma vaga revolucionária que se levantade Argel a Santiago do Chile, passando por Beirute, Hong Kong, Bagdad, Cartum, Porto Príncipe e Barcelonaexigindo que sejam expulsos do poder os regimes enfeudados ao capital.

É a mensagem dos Argelinos que, aos milhões e milhões, se manifestam, desde há cerca de dez meses, para expulsar o Regime, que quer vender ao desbarato os hidrocarbonetos aos monopólios imperialistas. Os Argelinos afirmam: em 1962, libertámos a terra; em 2019, vamos libertar o povo. É uma revolução na Argélia pela soberania da nação, que implica a soberania do povo sobre as riquezas naturais do país.

Ouvimos os delegados do Médio-Oriente. Os povos iraquiano e libanêsafrontando a pior repressão nas terras de um Médio-Oriente devastado pelas guerras, ultrapassando as divisões étnicas e religiosas fabricadas e mantidas pelas cliques parasitas instaladas no poderafirmam que querem expulsá-las a todas.

Vários delegados relataram o combate do povo palestiniano – que procura resistir a uma nova ofensiva do Estado de Israel, apoiado pelos EUA – lutando pela sua autodeterminação num Estado palestiniano democrático, que respeite a religião, o sexo, a origem ou a cor dos seus cidadãos.

Ouvimos os delegados da América Latina. Neste continente, uma vaga de levantamentos que, depois do Equador, vê a classe operária e o povo do Chile erguerem-se para acabar com a herança da ditadura de Pinochet, mantida pelos sucessivos governos, de direita como de esquerda, desde há 30 anos. Agora foi a vez dos povos da Colômbia e do Panamá se levantarem, enquanto o imperialismo norte-americano impõe um bloqueio destruidor contra a Venezuela. E prossegue a resistência contra os golpes de Estado, impulsionados pelo imperialismo dos EUA, como está a acontecer na Bolívia, depois do que se passou no Brasil.

Ouvimos os delegados das Caraíbas, do Haiti ocupado e das últimas colónias francesas, afirmando o seu combate pela soberania nacional.

Ouvimos os delegados da Ásia, denunciando os planos de liquidação social e económica nos seus países, e intervindo no coração da resistência dos trabalhadores na Índia, no Bengladesh, onde as organizações dos trabalhadores participam no combate dos trabalhadores e dos estudantes contra estes planos. Trata-se de apoiar o movimento dos trabalhadores e dos povos contra o capital, pelos direitos operários, contra o racismo, o fanatismo e o sectarismo religioso, a xenofobia e a violência patriarcal. Os delegados insistiram sobre a solidariedade com o povo de Caxemira e o estado de emergência imposto pelo Governo indiano.

Estamos igualmente solidários com o povo Rohingva, violentamente reprimido pela política genocida de Myanmar (Birmânia) e submetido ao ódio islamofóbico na Índia.

Ouvimos delegados a sublinhar que, nestas mobilizações, a juventude se levanta pelo direito a um futuro, como os estudantes na Índia ou na Europa, mas igualmente na Argélia, no Chile, em Hong Kong e no Médio-Oriente, onde os jovens ocupam os primeiros lugares no combate.

Ouvimos os delegados dos EUA e da Europa. Nos EUA, 40 mil operários de 34 fábricas da General Motors estiveram em greve, durante 40 dias, com o seu sindicato UHW, enquanto as greves massivas se multiplicam no Ensino, no mesmo momento em que a campanha eleitoral em curso revela a profundidade do fosso existente entre a imensa massa dos trabalhadores e a pequena minoria dos especuladores.

Na Europa, todos os governos – tal como a União Europeia – entraram numa crise sem precedentes, sob o efeito da concorrência dos grandes monopólios. Os governos qualquer que seja a sua cor política de “esquerda” ou de direita, à conta do capital, procuram destruir tudo o que tinha sido conquistado pelas lutas dos trabalhadores. A resistência desenvolve-se ao nível de todo o continente, do leste ao oeste e do norte ao sul, para se opor a estes planos destruidores. E é isto que está na origem da crise política que dilacera todos os governos e todas as instituições na Europa.

Em todo o mundo, estes governos ao serviço do capital procuram manter o controlo da situação, desencadeando uma repressão selvagem que já fez centenas de manifestantes mortos à bala no Iraque, no Irão, no Líbano, no Chile, no Haiti e na Bolívia, sem falar de centenas de outros presos ou feridos na Argélia, em Espanha, na França, em Hong Kong…

Os delegados destes 4 continentes fazem a mesma constatação. Estes governos procuram, por todos os meios, encerrar as Direcções das organizações de classe e dos partidos que se reclamam da democracia no quadro do funcionamento “continuista” das instituições políticas.

Partidos que, outrora, pretendiam falar em nome dos trabalhadores, e que – apesar da rejeição crescente de que são alvo – procuram canalizar as suas mobilizações para preservar os regimes que servem.

Face a estas manobras, a massa dos trabalhadores e dos militantes procura dar-se os meios de submergir, “a partir de baixo”, o bloqueio organizado pelas Direcções, para se reapropriarem das organizações que construíram para a sua defesa, e em relação às quais muitas das vezes os dirigentes põem em prática uma política contrária ao seu mandato. É assim que têm surgido formas inéditas de organização, que constituem um testemunho das lições tiradas pelos trabalhadores e pelos militantes da experiência do último período, e da vontade de largas massas de tomarem o controlo do seu movimento e de se organizarem por si próprias.

Numa situação em que “a guerra comercial” desencadeado por Trump ameaça degenerar numa grande quantidade de novas guerras, ninguém podendo dizer como e até onde, nas próximas semanas, os agentes do imperialismo vão reagir às explosões revolucionárias que se desenvolvem em todos os continentes.

Em conjunto, vindos de 4 continentes, afirmamos:

⁕ O laço que tecemos no CILI constitui a garantia de que nenhum de entre nós poderá estar isolado e atingido pelo silêncio criminoso organizado pelos Estados e as suas cliques corruptas.

⁕ Nunca tivemos tanta necessidade da ajuda e da solidariedade activa que nos oferece o CILI, como podemos constatar através da muita ampla campanha pela libertação de Louisa Hanoune (Secretária-Geral do Partido dos Trabalhadores da Argélia e militante dos direitos das mulheres), campanha que em mais de 100 países viu tomar posição organizações operárias e sindicais do movimento operário, assim como numerosas organizações democráticas, associações, personalidades e democratas. Nunca tivemos tanta necessidade do ponto de apoio que representa desde já o CILI.

⁕ Um Comité Internacional de Ligação e de Intercâmbio capaz de tomar iniciativas, em cada um dos nossos continentes, em resposta aos desenvolvimentos da situação, por exemplo contra o envolvimento das tropas francesas e norte-americanas em África e no Médio-Oriente.

⁕ Um ponto de apoio para fazer convergir as forças empenhadas, em cada um dos nossos países, na organização de uma “jornada internacional contra as guerras e a repressão” e que se dirija aos militantes operários dos EUA para lhes pedir apoio para a delegação que se deslocará à Sede da ONU, em Nova Iorque, para apresentar um acto de acusação a esta instituição, instrumento dos fautores de guerra imperialistas.

É este o compromisso que assumimos.

É este o compromisso que assumimos, nós – militantes e responsáveis vindos de 55 países de 4 continentes (2) – reunidos em Paris, a 28, 29 e 30 de Novembro de 2019, no âmbito do Comité Internacional de Ligação e de Intercâmbio (CILI).

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(1) A decisão para a constituição do CILI foi tomada em Dezembro de 2017, em Argel, aquando de uma Conferência Mundial Aberta, realizada por iniciativa do AIT (Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos), onde estiveram presentes militantes e responsáveis políticos de todos os horizontes do movimento operário, de origens partidárias e sindicais diversas, vindos de 42 países de todo o mundo.

O CILI foi formalmente constituído em Paris, a 8 e 9 de Junho de 2018, num Encontro em que participaram 55 delegados de 33 países.

(2) ÁFRICA: África do Sul / Azânia, Argélia, Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Camarões, Costa do Marfim, Djibouti, Gabão, Gana, Guiné Bissau, Ilha de Madagáscar, Ilha da Reunião, Ilhas Maurícias, Mali, Marrocos, Mauritânia, Níger, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, República do Congo, Ruanda, Senegal, Sudão, Tunísia, Uganda.

AMÉRICAS: Argentina, Brasil, Chile, Equador, EUA, Guadalupe, Haiti, Ilha da Martinica, México, Peru, Venezuela.

ÁSIA: Índia.

EUROPA: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bielorrússia, Espanha, França, Grécia, Hungria, Portugal, Roménia, Rússia, Sérvia, Suécia, Turquia, Ucrânia.

MÉDIO-ORIENTE: Líbano, Palestina.

Por outro lado, as delegações dos seguintes países viram ser recusado o visto: Burundi, Cazaquistão, Chade, Guiné Conacri, Nigéria, Somália, Togo.

E, além disso, houve delegações de diversos países que, por outras razões (médicas, profissionais,…), não puderam participar mas apoiaram a reunião do CILI: Arménia, Hong Kong, Irlanda, Itália, Reino Unido, Suíça, Tailândia.

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