Hong Kong: campo pró-Pequim sofre derrota eleitoral esmagadora

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O jornal The Standard (25 de Novembro) afirma: “A vaga democrática enterra o campo pró-Pequim”. E acrescenta: “Dezenas de conselheiros distritais, eleitos para a democracia, reuniram-se no Jardim Centenário durante a tarde, pedindo às autoridades que obrigassem a Polícia a pôr termo ao cerco da Universidade Politécnica, informa o RTHK (Serviço público de informação).

Nas eleições para os Conselhos de distrito de 24 de Novembro, derrota completa dos candidatos anti-Cinco Exigências (pró-Pequim) com uma perda de 240 mandatos. Os candidatos apoiantes das Cinco Exigências (pró-democracia) são maioritários em 17 dos 18 distritos, com 389 mandatos em 452.

Foi deste modo que foi eleito Jimmy Sham Tsz-kit, líder da Frente dos Direitos Civis e Humanos, que organizou as manifestações massivas a reivindicar as Cinco Exigências (três das quais com uma participação superior a 1 milhão de pessoas) para os Cinco Pedidos, atacados brutalmente com golpes de matraca, no mês passado.

O CONTEXTO DAS ELEIÇÕES

A luta pelas Cinco Exigência prossegue, em especial no que respeita à criação de uma Comissão de inquérito sobre a violência policial durante as manifestações pró-democracia, a amnistia para os milhares de pessoas detidas e a obtenção de um verdadeiro sufrágio universal para as eleições dos dirigentes de Hong Kong (1).

E, desde 17 de Novembro, os estudantes que estão a ocupar as universidades, com manifestações de apoio da população, têm-se defendido dos polícias que cercaram as instalações universitárias, nomeadamente as do Politécnico, inundando as ruas com gás lacrimogéneo e multiplicando as detenções.

No entanto, a 19 de Novembro, o Supremo Tribunal de Hong Kong declarou inconstitucional a lei que proíbe o uso de máscaras durante manifestações públicas.

Mas, face às ameaças do Diário do Povo – o órgão central do PC Chinês – o Supremo Tribunal suspendeu a aplicação do seu Acórdão durante a semana de 19 a 26 de Novembro.

OS RESULTADOS DAS ELEIÇÕES: OS PARTIDOS DO SISTEMA FORAM ESMAGADOS

A 24 de Novembro, 2,94 milhões de eleitores compareceram às urnas para eleger os seus representantes para os Conselho de distrito. Trata-se de uma taxa recorde de 71,2% dos inscritos (na eleição anterior só 1,47 milhões de eleitores tinham participado nas eleições, representando 47% do total de inscritos).

No cômputo geral, 389 lugares (86%) para os candidatos “pró-democracia”, e 60 lugares (13%) para os candidatos pró-Pequim.

Os partidos do Sistema foram esmagados: a Aliança Democrática para a Melhoria e o Progresso (DAB) tem apenas 21 mandatos, a Federação dos Sindicatos (FKTU), ligada ao sindicato oficial chinês ACFTU, só elegeu 5, enquanto o Partido Trabalhista, apoiado pela Central sindical independente HKCTU, elegeu 7.

O “Novo Partido Democrata”, de que todos os 28 candidatos eram militares, não conseguiu nenhum mandato…

CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS DAS ELEIÇÕES

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang, declarou num comunicado de imprensa: “O Governo central da China apoia fortemente a chefe do Executivo, Carrie Lam, como chefe do Governo da Região Administrativa Especial.”

E a imprensa livre de Hong Kong (25 de Novembro) observa: “O Governo diz que escutará com humildade as opiniões dos cidadãos e vai pensar seriamente sobre isso, declarou Carrie Lam num comunicado de imprensa publicado pelo Governo. Mas ela não forneceu quaisquer pormenores sobre a resposta provável. Pelo contrário, mantém ao mesmo tempo a posição de que as eleições eram sobre temas locais e não sobre a política da Região no seu todo.”

Os opositores avançam com a leitura inversa. Tommy Cheung, ex-dirigente estudantil que foi eleito no passado domingo, classificou o resultado como “um tsunami democrático”. O dirigente do Partido Democrático, Wu Chi-wai, por sua vez, declarou que “o resultado de hoje é o primeiro passo do nosso longo caminho para a democracia”. Lester Shum, outro dos dirigentes estudantis, afirmou à Reuteurs que os votantes utilizaram esta eleição “para demonstrar apoio pelo movimento, pelas suas cinco exigências e a insatisfação com o Governo de Hong Kong” e que o “Conselho distrital é apenas um caminho muito importante de luta” e que “no futuro devemos encontrar outros caminhos de luta”.

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(1) Estas eleições para os Conselhos Distritais são as únicas totalmente democráticas em Hong Kong. Os membros do Conselho Legislativo, o parlamento local, são escolhidos em parte pelo voto popular e em parte por grupos de interesses que representam diferentes sectores da sociedade, e o chefe do Executivo da Região administrativa especial é escolhido por um Colégio eleitoral de 1.200 membros, dominado por Pequim.

Após ter recuperado a soberania do território das mãos britânicas em 1997, sob a fórmula “um país, dois sistemas”, o Governo chinês comprometeu-se a manter a autonomia de Hong Kong e a respeitar até 2047 uma série de liberdades de que os cidadãos da China continental não gozam.

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