Contra o Golpe de Estado na Bolívia

Repudio al golpe de estado en Bolivia

A demissão de Evo Morales

No domingo, 10 de Novembro, o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Bolívia, Williams Kaliman Romero, retirou o seu apoio ao presidente Morales. A seguir, este dirigiu-se ao país para apresentar a sua demissão. A Polícia ordenou a sua detenção, e rapidamente o governo mexicano, de López Obrador, concedeu-lhe asilo político. No momento em que escrevemos, ele está a voar para o México (1).

Esta é, para já, a última fase de um processo contra-revolucionário que teve início após as eleições presidenciais de 20 de Outubro. A oposição acusou Morales de ter organizado uma fraude e exigiu, em primeiro lugar, a repetição das eleições. Morales cometeu a ingenuidade de recorrer à Organização dos Estados Americanos (OEA) para efectuar uma auditoria à situação! A OEA – agência do imperialismo norte-americano – não demorou 48 horas a declarar que houve irregularidades nas eleições. Então, a oposição exigiu a renúncia de Morales, recorrendo à mobilização contra ele em todas as cidades do país. Formou pretensos comités cívicos e uma Junta provisória de governo.

É evidente que, por detrás da oposição, está a intervenção do Governo dos EUA. No entanto, Morales – Presidente da República desde há 14 anos – contava com o apoio da maioria da população e vangloriava-se das melhorias económicas feitas sob o seu mandato.

A rapidez da cadeia de acontecimentos obriga-nos a procurar as causas deste súbito colapso.

O Imperialismo nunca aceitará

É evidente, particularmente em toda a América Latina, que o imperialismo nunca aceitará um governo que não se coloque 100% ao serviço dos seus interesses, mesmo que as medidas tomadas não vão contra a propriedade privada e os interesses do capital.

Na verdade, a Bolívia é um país extremamente rico em matérias-primas: minas de cobre, prata, ouro, etc. Mas, sob o governo de Morales, não foram tomadas medidas para renacionalizar as minas, em grande parte privatizadas em anos anteriores. É assim que a Comibol, nacionalizada, é hoje minoritária na exploração mineira. A Lei das Minas, do governo de Morales, multiplicou o número de cooperativas. Actualmente, são mais de 1600. Elas transformaram-se em pequenas empresas que recorrem a trabalhadores subcontratados, que estão sujeitos a uma exploração feroz, trabalhando até 16 horas por dia, e, de acordo com a Lei das Minas, sem o direito se sindicalizarem. A força que os mineiros representavam na década de 1970 – em que constituíam a coluna vertebral da classe operária boliviana – foi quebrada, e a sua organização sindical, a Federação dos Mineiros da Confederação Operária da Bolívia (COB), é minoritária perante a Federação nacional das cooperativas mineiras.

Isto explica por que tem sido difícil à COB e à sua Federação dos Mineiros defender Morales contra o golpe de Estado da direita. No mesmo domingo, 10 de Novembro, estas organizações aconselharam Morales a demitir-se.

Durante quase 14 anos, o governo de Morales – que se auto-denomina socialista – não saneou os pilares do Estado, como é o caso da Polícia e do Exército. Este, dirigido por alguns comandantes “educados” por oficiais do Exército dos EUA é o mesmo que organizou cerca de 200 golpes de Estado desde a independência da Bolívia (que teve lugar em 1825).

Assim, o General Williams Kaliman Romero tinha sido um adido militar da Embaixada da Bolívia nos EUA, de 2013 a 2016. E, de 2011 a 2012, tinha participado na Agência dos EUA de luta contra as drogas (DEA).

A situação que se está a abrir na Bolívia está longe de ficar “estabilizada” por este golpe de Estado. Ainda há confrontos, a resistência ao golpe de Estado continua, e isto insere-se num conjunto continental de insurreições e de intensificação da resistência dos trabalhadores e dos povos, particularmente no Chile, no Equador e na Venezuela.

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(1) Trata-se de uma Nota da responsabilidade do Comité Central do POSI (Partido Operário Socialista Internacionalista, Secção espanhola da 4ª Internacional), publicada a 12 de Novembro de 2019, na sua Carta semanal nº 755.

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