“Os povos não aguentam mais as condições de vida impostas pelo imperialismo.” Este é o tema desenvolvido no Editorial do jornal “O Trabalho” – cuja publicação é da responsabilidade da Secção brasileira da 4ª Internacional [e corrente do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil] – na sua edição nº 856, de 31 de Outubro de 2019.
A gota d’água
A ordem mundial ditada pela sobrevivência da propriedade privada dos grandes meios de produção, do imperialismo em crise, assenta sobre um barril de pólvora que explode em vários países.
Neste ano, inaugurado pela revolução argelina, as explosões atingem países em todos os continentes.
É a inexorável luta de classes que marca o cenário mundial em convulsão.
As classes oprimidas, sufocadas pelas medidas destruidoras impostas pelo capital financeiro, insurgem-se, apesar da brutal repressão (como no Iraque que já houve, desde o início de Outubro 250 mortos), cada vez mais desconfiam e rejeitam as “saídas” negociadas para manter as coisas como estão, como na Argélia, e prosseguem em luta.
Os povos revoltam-se, querem viver e cada vez mais expressam a rejeição aos regimes que cumprem as ordens mortíferas do imperialismo.
No Chile, a gota d’água que fez transbordar foi o aumento em 30 pesos (0,036€, correspondentes a uma subida de 3,75%) na passagem do Metro. O Governo tentou recuar para aplacar as massas, mas elas já gritavam nas ruas: “Não é por 30 pesos, é por 30 anos!”. E exigem uma Constituinte Soberana para varrer todas as políticas da ditadura (de Pinochet), mantidas pelos sucessivos governos nestes 30 anos depois da sua queda.
No Líbano, a gota d’água foi a tentativa do Governo de tarifar ligações via WhatsApp que detonou mobilizações dos libaneses, como um só povo. O recuo na tarifação não fez recuar as mobilizações, que exigem o fim do Regime e levaram à renúncia do Primeiro-ministro, Hariri.
A primeira coisa que este vendaval joga por terra é a balela – útil para encobrir responsabilidades dos que, em nome do povo trabalhador, se perfilaram às exigências do capital financeiro – de que os povos e o mundo estavam virando à direita!
Nos próprios EUA, greves de trabalhadores se sucedem e a crise política que resultou na eleição de Trump está longe de se resolver. E aqui na América Latina, que Trump considera o seu quintal, os bastiões da sua política vão ruindo. Na Venezuela, quem se lembra do auto-proclamado presidente Guaidó? O Chile convulsionado, na Argentina Macri foi derrotado, no Equador o povo se levantou contra os ditames do FMI… e no Brasil?
A burguesia, os seus partidos, as instituições e a Comunicação social que fabricaram o governo Bolsonaro temem que o país seja “contaminado” pela luta nos países vizinhos. Mas se já há uma “contaminação” é o facto de que a política destes governos, contra as quais o povo se revolta, é a mesma para a qual elegeram Bolsonaro presidente!
Sem que seja possível prever quando e como, o facto é que o país pode desembocar numa explosão social – o próprio Bolsonaro se prepara para ela, acentuando os seus traços bonapartistas e ameaçando com repressão – dadas as condições de vida degradantes do povo.
Qual será a gota d’água não se sabe. Uma fila monumental de pessoas desesperadas à procura de emprego, mais um assassinato pelo Estado nas favelas cariocas, mais um direito à educação atacado, um direito laboral retirado…
É para este quadro que o 7º Congresso do PT (que terá lugar de 22 a 24 de Novembro, em São Paulo) terá de preparar o Partido. Quanto mais o Partido se preparar para pôr fim ao governo de Bolsonaro – e ao conjunto das suas políticas – tanto mais se preparará para encabeçar um Governo, com Lula Livre, que venha para fazer as mudanças de fundo, as reformas estruturais, para livrar o Brasil da política imposta pelo imperialismo contra a qual, com formas e ritmos diferenciados, os povos se levantam.