Espanha: Entrevista a Luis González Sanz (1), sindicalista das Comissões Operárias (CCOO)

Luis Gonzalez

O governo de Pedro Sanchéz deve estar preparado até 23 de Setembro para poder ser investido

“Qualquer que seja o Governo, as nossas pensões de aposentação são para ser defendidas!”

P – O governo de Espanha não está ainda formado, embora as eleições legislativas já tenham sido realizadas a 28 de Abril. Quais são os bloqueios? No entanto, o PSOE obteve uma maioria (relativa) de mandatos.

R – Aparentemente, dadas as propostas que foram trocadas entre os partidos, não há grandes diferenças entre as várias grandes formações de esquerda. Pablo Iglesias, à frente da Unidas Podemos, gostaria de formar um Governo de coligação, com ministros do seu movimento que garantiriam que os acordos governamentais são implementados. É isso que Pedro Sanchéz, do Partido Socialista (PSOE), não quer. Segundo ele, as diferenças sobre questões centrais são demasiado grandes, em particular sobre a Catalunha e sobre o processo contra os republicanos catalães.

Salvo que, para os mais de 12 milhões de eleitores que votaram nas várias listas de esquerda, no dia 28 de Abril, o mandato foi claro: ponham-se de acordo e formem um Governo que revogue todas as contra-reformas e inverta a austeridade dos governos do Partido Popular (PP)!

P – O movimento em defesa do Sistema público de pensões de aposentação em Espanha continua a ser muito forte. É um elemento da situação política e social no vosso país?

R – Sim, sem dúvida. Em 2011, os líderes da UGT e das CCOO (as principais Centrais sindicais em Espanha) assinaram, com o Governo dessa época, um acordo sobre as pensões de aposentação, que elevou a idade de reforma para 67 anos e baixou o montante da pensão. Este acordo foi rejeitado pela grande maioria dos trabalhadores e reformados.

Em seguida, o governo de Rajoy colocou em cima da mesa uma nova reforma. Ela impunha um aumento de 0,25% ao ano no montante das pensões – deixando de haver um aumento indexado à inflação, tal como até então – e introduzia o chamado “factor de sustentabilidade”, que reduzia o montante da pensão inicial. Nessa altura, os aposentados organizaram-se por sua própria conta, apelando a manifestações em todas as grandes cidades do país e estabelecendo uma coordenação entre eles.

Foi este movimento dos reformados que provocou a queda do governo de Rajoy, através de uma moção de censura no Parlamento, a qual levou à chegada de Sanchéz ao governo, apoiado pela esquerda, bem pelos nacionalistas catalães e bascos. Mas o movimento dos pensionistas mantém a independência que assumiu desde o início, com base nesta palavra de ordem: “Qualquer que seja o Governo, as nossas pensões de aposentação são para ser defendidas!”

Está convocada uma manifestação nacional para o próximo dia 16 de Outubro, em Madrid, que irá concentrar-se em frente ao Palácio das Cortes (Assembleia Nacional).

P – Num outro plano, como é que a questão dos presos políticos catalães e o seu processo se combinam com aquilo que é evidente designar como uma crise das instituições em Espanha?

R – O povo catalão quer decidir livremente. 80% da população, incluindo aqueles que querem a independência e aqueles que não a querem, é a favor do direito a decidir de forma livre. Mas nem a Monarquia nem o aparelho de Estado, herdeiro do franquismo, podem admitir esse direito. É por esta razão que, após o referendo de 1 de outubro de 2017, o Rei Filipe VI apelou a cerrar fileiras contra os Republicanos catalães.

Actualmente, o processo e as eventuais condenações podem transformar-se, a qualquer momento, em novas bombas, o que iria aprofundar ainda mais a ruptura entre o povo catalão e o Regime.

Para os trabalhadores, é vital forjar a unidade da sua luta com a do povo catalão, para poder triunfar contra o inimigo.

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(1) Responsável pela acção sindical do Sindicato de Saúde e Sectores Sócio-sanitários das CCOO de Sevilha.

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