Reino Unido: Ameaças sobre o NHS e o Sistema público de aposentações

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Perante a crise desencadeada pelas condições do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) – a qual não pára de se aprofundar, a todos os níveis – Boris Johnson teve que fazer algumas promessas, aquando da sua investidura como Primeiro-ministro. Uma delas foi o aumento de 1,8 mil milhões de libras esterlinas no Orçamento para o NHS (o Sistema Nacional de Saúde) [1].

A campanha “Keep our NHS public” (Mantenhamos público o nosso NHS) que agrupa Associações de defesa da Saúde e Sindicatos, denuncia este logro dos 1,8 mil milhões (quase 2 mil milhões de euros), porque cerca de metade dessa verba corresponde a cortes orçamentais feitos nos hospitais no passado mês de Maio (e que Johnson vai anular), e porque cerca de 850 milhões serão destinados a projectos específicos.

Sonia Adesara, médica hospitalar e participante na campanha pelo NHS público, descreve assim a situação dos hospitais: “Temos enormes problemas nas instalações dos nossos hospitais – desde tectos que caem, até fugas de água e ascensores avariados. O custo dessas reparações é de 6 mil milhões e, portanto, a verba prometida não vai chegar. E a razão porque se atingiu este estado de degradação é o corte de 4 mil milhões de libras nos orçamentos dos nossos hospitais”.

Greve no hospital de Bradford

Desde 8 de Julho, cerca de 200 funcionários (um terço do total) do hospital de Bradford, perto de Leeds, estão em greve com o seu sindicato Unison. Eles protestam contra o plano da Administração visando subcontratar os 600 funcionários não-médicos, fazendo-os contratar por uma empresa externa criada pelo hospital, a fim de os privar do estatuto de trabalhadores do NHS e economizar assim vários milhões de libras. Contornando as condições draconianas para organizar uma greve no hospital, a mobilização sindical e dos assalariados conseguiu que 70% dos sindicalizados tenham participado na votação e que 90% tenham votado a favor da greve.

No passado mês de Julho, Trump – quando visitou o Reino Unido para discutir sobre um Acordo de comércio livre –declarou abertamente que o NHS tinha, como tudo o resto, de fazer parte das negociações. Johnson, como toda a classe política britânica, condenaram de imediato essa declaração.

Contudo, este Acordo de comércio livre com os EUA é uma das razões essenciais que levou uma fracção do capital financeiro britânico a preconizar a ruptura com a UE, para ir ainda mais longe na desregulamentação e na privatização total dos serviços públicos, e em particular do NHS, que está na primeira linha.

A aposentação dos mortos, na versão britânica

O “think-tank” Centre for Social Justice – dirigido por Ian Duncan Smith, antigo dirigente do Partido Conservador, ex-ministro do Trabalho e das Aposentações, e Coordenador da campanha de Boris Johnson para a Direcção do Partido Conservador – acaba de publicar, recentemente, um Relatório sobre as aposentações, propondo que a idade para ter direito à aposentação de Estado (pensão-base orçando em cerca de 600 libras, atribuída após 35 anos de descontos) passe para 70 anos, em 2028, e depois para 75 anos, em 2035.

A última reforma das aposentações, em 2016, tinha imposto uma passagem progressiva para 68 anos, em 2038 (contra os 65 anos actuais). Em Glasgow, a esperança de vida é de 73,3 anos… Trata-se da aposentação dos mortos!

Em 40 anos, a taxa de pobreza extrema dos idosos (mais de 65 anos) passou de 0,9%, em 1980 – a taxa mais baixa da Europa – para 5%. Além disso, a baixa dos salários e o desenvolvimento em massa do auto-empreendedorismo levam a estimar que, em 2036, três quartos dos que se aposentem terão direito apenas à pensão-base do Estado, deixando de ter acesso a um plano de aposentação da sua empresa, o qual até agora permitia completar a pensão do Estado.

Que saída?

Qualquer que seja a saída do braço-de-ferro com Bruxelas sobre o Brexit, é claro que os trabalhadores não têm nada a esperar deste Governo inteiramente reaccionário, o qual não tem outra escolha, se quiser aguentar-se, senão lançar os mais brutais ataques contra os trabalhadores e os serviços públicos.

Também não têm nada a esperar dos partidários da União Europeia (UE), os lib-dem (os Liberal Democratas, cuja líder afirmou que o seu maior receio, antes de um “não-Acordo”, era ver Jeremy Corbyn [2] tornar-se Primeiro-ministro), tal como dos Verdes (que propuseram, para bloquear o Brexit, a constituição de um Governo de unidade nacional… excluindo Jeremy Corbyn).

A saída reside no combate dos trabalhadores e dos seus sindicatos para defender os serviços públicos e os direitos operários, mas também no combate por um governo do Partido Trabalhista que defenda e restabeleça as conquistas sociais, e que, para isso, rompa com a UE, respeitando assim plenamente o voto dos milhões que votaram pela saída da UE, em 2016.

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[1] O que está por trás da suspensão dos trabalhos do Parlamento no Reino Unido, durante mês e meio? É a situação social nesse país, descrita neste artigo do nosso correspondente do Labour News, que é um Boletim editado por militantes do Labour Party (Partido Trabalhista) simpatizantes da 4ª Internacional.

 [2] Líder do Labour Party.

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