A paralisação de 5 de Agosto foi convocada pela confederação sindical HKCTU. Trata-se da primeira greve geral em Hong-Kong, desde que a Região foi devolvida ao território chinês em 1997 (como Região administrativa especial), mas também desde décadas antes, enquanto foi colónia britânica.
A greve resultou da recusa da chefe do Executivo, Carrie Lam, apoiada por Pequim, de retirar o projecto de Lei – apenas suspenso – que permite a extradição de refugiados para a China continental, bem como da recusa de ser constituída uma Comissão de inquérito independente sobre a violência policial nas manifestações que se sucedem há dois meses. Os grevistas exigiam ainda a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, e o estabelecimento do sufrágio universal para o chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo (o Parlamento de Hong-Kong).
São estas as “cinco reivindicações” que mobilizam a população de Hong-Kong, a qual se levanta de facto contra o governo de Pequim.
Nos dois dias anteriores à greve geral, centenas de milhares de manifestantes tinham percorrido a cidade de Hong-Kong, em luta por estas reivindicações.
O desenvolvimento da greve
Desde a manhã do dia 5 de Agosto, no Aeroporto de Hong-Kong, multiplicaram-se os cancelamentos de voo, que chegaram a 250 no final do dia. Ao mesmo tempo, sete linhas do Metro (MTR) estiveram em greve ou foram bloqueadas por jovens, trabalhadores ou estudantes.
Os empregados dos sectores público e bancário juntaram-se aos trabalhadores da construção e do comércio retalhista, enquanto pelo menos 95 sindicatos locais da HKCTU apelaram os seus filiados a aderir à greve geral. Segundo a presidente da Confederação, Carol Ng, 14 mil engenheiros responderam ao apelo.
À tarde, milhares de grevistas e estudantes concentraram-se em sete locais, antes de se espalharem por Hong-Kong para bloquearem as principais artérias de trânsito na maioria de suas principais zonas.
Os organizadores anunciaram que cinquenta mil pessoas estavam a participar nessas acções.
Em vários locais de manifestações a Polícia de choque usou gás lacrimogénio.
Numa conferência de imprensa, na tarde do dia 5 de Agosto, a Polícia informou que, desde 9 de Junho, foram efectuados mil disparos de gás lacrimogénio, atiradas 160 balas de borracha, 160 granadas-esponja e 502 pessoas foram presas.
Mesmo assim, no final do dia, os organizadores anunciaram que tinha havido 150 mil participantes nas acções realizadas à tarde, no quadro da greve geral.
O movimento continua, depois da greve
O Governo chinês reagiu à greve afirmando que “não se trata de manifestações normais, mas sim de violações radicais da ordem pública e das leis, colocando em questão os objectivos fundamentais de ‘um país com dois sistemas’ e a dignidade nacional. A motivação é destruir e arruinar Hong Kong.”
Segundo o South China Morning Post (de 6 de Agosto), “estas reacções do Governo chinês mostram o pânico da burocracia perante os acontecimentos, mas sobretudo perante o que poderá acontecer na própria China”.
Entretanto, as manifestações continuam a exigir a satisfação das “Cinco Reivindicações”.
Nos dias 6, 7 e 8 de Agosto, centenas de jovens protestaram exigindo a libertação incondicional de Keith Fong, dirigente do Sindicato estudantil da Universidade Baptista. Keith Fong foi libertado a 8 de agosto.
No sábado, 10 de Agosto, centenas de mães de família e de pessoas idosas desfilaram na rua com os seus filhos, contra a Lei de extradição, numa manifestação autorizada. E, apesar da proibição de quatro manifestações no domingo, 11 de Agosto, mesmo assim três foram realizadas.
A 12 e 13 de Agosto milhares de manifestantes ocuparam o Aeroporto internacional de Hong-Kong, levando ao cancelamento de todos os voos.
Exigência do sufrágio universal é agora a reivindicação central
A 18 de Agosto, dezenas de milhares de manifestantes estão a encher o parque Vitória, no centro da cidade, numa iniciativa da Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH), que previa inicialmente uma marcha de protesto, que foi proibida pela Polícia.
Bonnie Leung, a porta-voz da FCDH – o movimento que lidera os protestos pró-democracia em Hong-Kong – disse à Lusa que o derradeiro objectivo dos manifestantes é garantir o sufrágio universal na Região Administrativa Especial chinesa.
Com o som de fundo de palavras de ordem como “Hong-Kong livre” e “Democracia agora” – entoadas pelos manifestantes concentrados no parque Vitória – a activista sublinhou que os problemas em Hong-Kong não se resolverão enquanto não existir sufrágio universal na antiga colónia britânica que regressou à soberania chinesa em 1997 com o estatuto de Região Administrativa Especial, que formalmente garante um elevado grau de autonomia.
A transferência de Hong Kong e de Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respectivamente, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”, precisamente o que os opositores às alterações da Lei garantem estar agora em causa.
Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia – a nível executivo, legislativo e judiciário –, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e a defesa.