Da nossa camarada Maria João Gomes – Deputada na Assembleia Municipal da Marinha Grande – recebemos esta contribuição sobre a questão dos incêndios, que não corresponde à versão “oficial” dos acontecimentos.
Em Agosto de 2003, arderam cerca de 300 mil hectares de floresta de eucaliptos e pinheiros, em Portugal.
16 anos passados, a situação vem-se repetindo, como uma inevitabilidade a que as populações das áreas ardidas são sujeitas, por vezes, perdendo todos os haveres e até a vida.
Por mais discursos de solidariedade do Governo e visitas do Presidente da República que recebam, nenhum povo merece sofrer repetidamente o desespero e a devastação provocada pelos incêndios de Verão. Porque, no essencial, nada mudou e esta floresta continua tão abandonada e combustível como sempre.
Culpam-se as condições atmosféricas, as falhas da Protecção civil, as condições de trabalho dos corpos de bombeiros. Enfim, a falta de meios, que nunca serão suficientes, enquanto não houver vontade política para resolver o verdadeiro problema, que consiste em florestação extensiva de pinheiros e eucaliptos a mais e ordenamento do território a menos.
Até aos anos sessenta do século passado, em áreas de pequena propriedade, a par da floresta, a população vivia tradicionalmente da agricultura, complementada pela pastorícia e a caça. Cultivavam-se os campos, nos vales e encostas e à volta das habitações e das aldeias. Nas hortas e ao pé da porta, havia couves, batatas e milho. Agora há eucaliptos e mato.
A política ditada pela CEE, de diminuição dos activos na agricultura e a sua desvalorização, a par da campanha de plantação de eucaliptos, contribuíram para o abandono dos campos, o êxodo da população para os grandes centros e um crescimento desordenado e abundante de uma floresta altamente inflamável.
O frenesim da celebração do eucalipto passou ao largo de qualquer legislação ou estudo existente sobre ordenamento florestal. Ignorou a necessidade da existência de faixas de descontinuidade ou corta-fogos nos locais devidos, com a respectiva gestão dos combustíveis, e avançou triunfantemente até ao estado calamitoso que temos hoje.
Um bom negócio para as celuloses e os madeireiros. O mesmo não podemos dizer para as zonas do interior do país, que foram ficando progressivamente mais desertificadas, com uma população mais esquecida e perdida, no meio de uma floresta que não foi feita, nem pensada, para nela viver gente, mas para ser economicamente rentável.
Depois de cada incêndio de grandes proporções, o Governo cria “comissões de avaliação”, destinadas a mascarar a situação, a tentar sossegar a opinião pública, mas que, na realidade, não resolvem o problema de fundo, que continua a ser o não investimento numa política de ordenamento do território e da floresta que tenha em conta as condições climáticas e a ocupação das populações com uma gestão rentável dos recursos agrários.