China: “Desapareceram” os dirigentes do Círculo Marxista da Universidade de Pequim…

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Pois, se em vez de defenderem os operários da Jasic Technology e o seu direito a formar um sindicato, eles tivessem defendido os capitalistas da Huawei e os seus negócios, não teriam sofrido qualquer perseguição por parte das autoridades chinesas, mesmo que dirigissem um círculo designado de “marxista”. A palavra em si não incomodaria, desde que servisse apenas de ornamento. Já passar da autodenominação de “marxista” para um discurso ou actuação políticos que realmente reflictam o pensamento e a acção de Marx, Engels ou Lenine significa forçosamente entrar em colisão frontal com a linha política do Partido Comunista Chinês e com os interesses da casta burocrática que o dirige. Não se pode estar com Marx e Xi ao mesmo tempo!

Palavras e expressões como “proletariado”, “classe operária”, “classes trabalhadoras”, “burguesia”, “classe capitalista”, “luta de classes”, “exploração”, “opressão”, “exploração do homem pelo homem”, tudo isso desapareceu do discurso público do Partido. Ao iniciar a política dita de “Reforma e Abertura”, no final dos anos 70, Deng Xiaoping afirmou que enriquecer era glorioso e que não importava que um gato fosse preto ou branco, pois, desde que apanhasse ratos, seria um bom gato (por outras palavras, o trabalho e a exploração seriam duas fontes igualmente legítimas de rendimento).

Com o massacre de Tian’an Men por si ordenado, em 4 de Junho de 1989, contra estudantes que cantavam a “Internacional” e diziam “fascistas fora do poder”, ele quis reforçar a mensagem: sim, podem enriquecer, podem divertir-se, podem até drogar-se (às escondidas), mas não se metam em política!

Com o ex-Presidente Jiang Zemin (1993-2003), veio a Teoria das Três Representações, incorporada nos Estatutos do Partido já no final do seu segundo mandato e mais recentemente, em 2018, introduzida, através de menção, no preâmbulo da própria Constituição do país: o Partido deixava de ser a “vanguarda da classe operária” e passava a representar, indiferenciadamente, as “forças produtivas avançadas”, “as exigências da cultura avançada” e “os interesses da esmagadora maioria do povo”, convertendo-se, assim, em síntese, numa união nacional interclassista. Imediatamente começaram a entrar capitalistas milionários para o Partido e, passado algum tempo, um deles chegou ao Comité Central.

Com o ex-Presidente Hu Jintao (2003-2013), foi introduzido no léxico oficial o conceito de “harmonia”, supostamente repescado da antiga filosofia confuciana (século VI a.C.), mas reciclado para sustentar a versão chinesa da ideia corporativista de associação trabalho-capital num quadro nacionalista encimado pelo Partido.

A tudo isto veio Xi Jinping (2013-…) acrescentar o aparentemente misterioso conceito de “sonho chinês” – afinal, parece que se trata de uma suposta ambição nacional de recolocar a China na posição de primeira potência mundial, ex aequo ou mesmo acima dos EUA. Paralelamente, palavras como “pátria” e “patriotismo” passaram a ser repetidas com uma insistência verdadeiramente doentia. Poderá este regime, chegado a tamanho nível de putrefacção fascistóide, tolerar marxistas e algo que cheire a luta de classes?

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