O comportamento na noite das eleições europeias de todos os comentadores políticos, tentando apagar a realidade dos números, sobre a participação do povo português neste acto eleitoral, não pode deixar de ter um significado político.
Todos procuraram camuflar que, apenas 24, 4% dos cidadãos decidiram dar o seu voto aos partidos que concorreram.
68,64% abstiveram-se e 6,96 % votaram em branco ou anularam o voto.
Quando mais de 75% da população votante se recusa a participar ou caucionar estas eleições, numa situação política marcada, em particular nos últimos meses, não pela apatia, mas ao contrário, pela mobilização de sectores inteiros da população trabalhadora, exigindo a satisfação das suas reivindicações, não tem obrigatoriamente esta rejeição maioritária um acentuado cunho político?
Mobilizações e greves no sector da Saúde, dos enfermeiros, aos operacionais de saúde e aos médicos, em defesa de carreiras profissionais, que garantam o correcto exercício da sua actividade e exigindo a abertura de concursos para o normal funcionamento do SNS; no sector do Ensino, com as mobilizações e greves dos professores em defesa da contagem integral do tempo de serviço, da sua carreira profissional e da Escola pública; igualmente as greves dos estivadores e dos motoristas dos transportes de mercadorias perigosas, contra a precariedade e exigindo contratos colectivos de trabalho.
O título de hoje do jornal “Público” , “Governo tem voto de confiança e PSD a maior derrota de sempre”, mostra e ilustra de forma clara a necessidade, por parte de um dos representantes do capital financeiro, de mascarar a realidade dos números expressa nestas eleições, alertando ao mesmo tempo para o descalabro em que se encontra o principal partido da direita portuguesa.
Poderá um Governo que, somados os votos do seu partido e daqueles que o apoiam, representa simplesmente 12,5 % dos eleitores inscritos, ter um voto de confiança?
Voto de confiança para quê?
Para continuar a aplicar a política de desinvestimento na Saúde, no Ensino Público, no Ambiente e na Cultura, e mantendo a legislação laboral do tempo da Troika, políticas que têm enfrentado a rejeição e a mobilização dos trabalhadores e das populações?
Não, a realidade é esta e nenhuma montagem mediática vai poder impedir a continuação desta resistência e desta mobilização, perante as medidas que o governo de António Costa vai necessariamente procurar tomar, tal como o governo de Macron, com quem se solidarizou e que enfrenta a rejeição na rua e na luta de classes, de largas camadas da população francesa.
E mais do que nunca vai ser necessário, inserindo-nos nesta resistência e nesta mobilização, retomar e prosseguir a política de um amplo reagrupamento de forças de diferentes quadrantes políticos e sindicais, na perspectiva de um Movimento de Defesa das Conquistas de Abril.