Divulgamos esta Nota de Jacques Buisson sobre a política de Macron e as expectativas para as eleições ao Parlamento Europeu, publicada no semanário Informations Ouvrières – Informações operárias – do Partido Operário Independente, de França, nº 554, de 22 de Maio de 2019. Macron que não cessa de receber elogios do Primeiro-ministro português, António Costa…
Tudo parece confirmar que a rejeição massiva que atravessa toda a Europa vai exprimir-se, de forma marcante, por ocasião das próximas eleições, vindo repercutir-se numa União Europeia em vias de desagregação e nos governos em plena crise.
Em França, uma abstenção recorde está anunciada. Apesar da repressão, a mobilização dos coletes amarelos dura há mais de 6 meses. A greve estende-se a um número crescente de serviços de urgências. O movimento vindo de baixo, procurando contornar os obstáculos, é a marca de toda a situação. É ele que alimenta a crise política, que desestabiliza cada vez mais este Governo e todos os que, de uma maneira ou de outra, o apoiam ou recusam fazer-lhe frente. Uma crise que sem dúvida alguma os resultados das eleições europeias vão consideravelmente amplificar.
O Journal du Dimanche, na sua edição de 19 de Maio, coloca um título que diz tudo sobre a amplitude desta crise: “Por que é que Edouard Philippe (Primeiro-ministro francês) arrisca a sua pele”… Challenges fala do vento de pânico que se apoderou da República em Marcha (Movimento de Macron). Logo que foi proposta como cabeça-de-lista às eleições europeias, Nathalie Loiseau foi recomendada apagar-se. Macron e o chefe do Governo sobem à primeira linha.
Eles acenam desesperadamente com a ameaça da extrema-direita. Tentam fazer-se passar, de forma igualmente desesperada, pelos defensores da democracia.
MACRON E A DEMOCRACIA, FALEMOS DISSO
Macron deu esta terça-feira, 21 de Maio, uma entrevista à imprensa quotidiana regional. De forma anedótica, exigiu reler a entrevista antes da sua publicação. Recusando esta imposição, vários jornais diários – entre os quais La Voix du Nord – boicotaram a operação de propaganda presidencial.
Nesta entrevista, o Presidente da República – vaiado por todo o país, todos os sábados – declara altivamente: “Quando olho para o que se está a passar, o desemprego está no nível mais baixo desde há 10 anos, o poder de compra nunca aumentou desta forma desde há 12 anos (…) Não há que corar de vergonha do nosso balanço, é preciso ir mais longe.”
Uma política massivamente rejeitada, para prosseguir custe o que custar… A Presidência da República prepara, aliás, uma Circular visando suprimir ou reorganizar as agências do Estado. Um projecto que leva o diário Les Échos a dizer: “Grande limpeza em vista…”. O mesmo diário, na sua edição de 21 de Maio, conclui assim a sua crónica: “Aconteça o que acontecer a 26 de Maio, as reformas continuarão.”
Na linguagem de Macron, chama-se a isto progressismo…
UM ADVERSÁRIO ENCARNIÇADO DA EXTREMA-DIREITA…
É assim que Macron se apresenta. Na sua entrevista à imprensa diária regional ele escolheu exprimir-se também acerca da imigração. Pronuncia-se a favor das quotas e de um reforço dos controlos nas fronteiras da União Europeia. O imperialismo francês, o seu Exército, as suas bombas vendidas às mais terríveis ditaduras, alimentam os conflitos, as guerras, as pilhagens que estilhaçam países inteiros, nomeadamente em África, obrigando dezenas e dezenas de milhar ao êxodo. Milhares encontram todos os anos a morte em condições atrozes, tentando atravessar o Mediterrâneo. Macron, arauto do progressismo, pronuncia-se pelo reforço dos controlos nas fronteiras. Ignóbil!
“NÃO SE BRINCA COM A DEMOCRACIA AO SÁBADO”
No mesmo registo, afirmou no passado sábado, 18 de Maio: “Para aquelas e aqueles que continuam hoje (a manifestar-se), não há saída política”. E acrescentou: “Não se brinca com a democracia ao sábado à tarde”.
Isto quer dizer que todos os que, desde há meses, se manifestam contra Macron, contra o seu Governo, contra a sua política, para que isto pare – portanto, todos os que exprimem a vontade da imensa maioria – se colocam fora da democracia. E é em nome desta visão abertamente totalitária que este Governo recorre cada vez mais brutalmente à repressão, ao arbitrário.
Perante este Governo em crise, que prossegue cada vez um pouco mais a sua perigosa deriva autoritária, a democracia está nestas assembleias, nestas manifestações organizadas, ao apelo dos coletes amarelos, está nestes serviços de urgência onde os trabalhadores se empenham na greve sem pedir autorização a ninguém e tomam os seus assuntos nas mãos. Reagrupar uma ampla força para ajudar, de forma prática, este movimento que procura reunir as condições para derrotar Macron e a sua política, é o papel dos comités de resistência e de reconquista, é o papel deste jornal.