Venezuela: fracassa nova tentativa de golpe

Trump_Venezuela

Mas a situação continua tensa, exigindo medidas efectivas por parte de Maduro (1).

Ao longo de todo o dia 30 de Abril, desde as 6 horas da manhã – quando o “auto-proclamado” Guaidó, acompanhado do líder do seu partido (Vanguarda Popular) Leopoldo López, que escapou da sua prisão domiciliar, anunciaram o “fim de Maduro” e que as Forças Armadas estavam do seu lado, até ao fracasso dessa nova tentativa de golpe no país vizinho, confirmada pelo pedido de asilo de militares e do próprio Leopoldo em embaixadas – estivemos em contacto com companheiros venezuelanos do Colectivo Trabalho e Juventude (membro do Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos – AIT), como o deputado constituinte Raúl Ordoñez, que nos enviaram mensagens dando conta da situação em Caracas e noutros pontos da Venezuela. O que nos permitiu ter um quadro mais fiel dos acontecimentos no país, que nos grandes meios de comunicação eram vergonhosamente falsificados e manipulados.

No final da tarde do dia 1º de Maio, ouvimos Alberto Salcedo, sindicalista em Maracaíbo (segunda cidade do país e capital do Estado Zúlia, fronteiriço com a Colômbia), que fez um balanço da situação.

1º de Maio contundente rechaça golpistas

“Neste 1º de Maio tivemos uma impressionante e contundente mobilização do povo trabalhador em Caracas, a maior já ocorrida desde que Maduro é presidente, em contraste com as marchas convocadas por Guaidó que foram limitadas aos bairros da classe média-alta, mesmo assim abaixo de mobilizações anteriores da Direita, e fracas também noutros pontos do país.

Centenas de milhares marcharam nesta quarta-feira, Dia do Trabalhador, contra o golpe e a ingerência dos EUA, da Colômbia e dos seus aliados, protegendo Maduro que encabeçou o desfile. No seu discurso, o Presidente da República revelou detalhes da tentativa golpista, afirmando que apresentará provas sobre os traidores que colaboraram com ela.

Assim, Maduro sai fortalecido neste momento e convocou – para 5 e 6 de Maio – um diálogo com os movimentos populares, com as bases do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela, criado por Chávez, NdT) e com sindicatos, para que digam o que é preciso corrigir ou modificar na política do Governo, apresentando críticas e propostas de saída para a crise em que está mergulhado o país.

Mas é preocupante que sobre a política económica ou mudanças de ministros, Maduro não tenha feito qualquer anúncio. Perante uma inflação que enlouqueceu, o simples aumento de salários e de abonos se evapora em poucas horas. Neste sentido, as medidas que propusemos no manifesto para o 1º de Maio (ver abaixo), continuam atuais, sob pena de entrarmos num beco sem saída.

Voltando à tentativa de golpe, tratou-se de uma acção envolvendo grupúsculos de militares em que há aspectos ainda obscuros. Por exemplo, a participação do Director do Sebin – que é a polícia política na Venezuela – no episódio, em particular no aparecimento público de Leopoldo López. O que pode ter relação com as declarações de John Bolton (conselheiro de Segurança nacional de Trump, NdT) de que havia um acordo com sectores militares para derrubar Maduro e que existiriam conversações com altos chefes das Forças Armadas.

De qualquer forma, os golpistas esperavam que uma grande mobilização popular os apoiasse, o que não ocorreu, e além disso os acontecimentos do dia 30 tiveram um impacto negativo também sobre as marchas opositoras previstas para o 1º de Maio.”

 A situação neste momento

Na manhã de 2 de Maio, no fecho desta edição, Nicolás Maduro falou aos venezuelanos -discurso transmitido pela cadeia nacional de televisão, a partir do Forte Tiúna, principal quartel da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB). O Presidente estava ao lado do ministro da Defesa, general Padriño López, e frente a 5 mil soldados denunciou “os que se vendem aos dólares de Washington para trair o país”, destacando que a maioria dos oficiais que apoiou a acção golpista foram “enganados”.

O facto é que Guaidó não está preso ainda, e volta e meia aparece em bairros ricos da capital ou nas redes sociais convocando a continuidade de manifestações pela queda de Maduro.

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(1) Notícia da autoria de Lauro Fagundes, transcrita do jornal “O Trabalho” – cuja publicação é da responsabilidade da Secção brasileira da 4ª Internacional, na sua edição nº 846, de 2 de Maio de 2019.

 

MANIFESTO PARA O 1º DE MAIO

No 1º de Maio o povo trabalhador chavista ocupou as ruas em defesa da nação contra o golpe.

O Colectivo Trabalho e Juventude tinha lançado, antes da tentativa de golpe de 30 de Abril, um Manifesto para o 1º de Maio, intitulado “Mobilização do povo trabalhador contra a ingerência imperialista, em defesa da nação; Reavaliação dos salários e respeito pelas nossas conquistas”.

O Manifesto continua actual, para enfrentar a profunda crise em que o país foi mergulhado dado o bloqueio económico comandado pelo governo de Donald Trump, acompanhado por governos seus lacaios no continente reunidos no “Grupo de Lima”.

“Opômo-nos àqueles que pretendem subordinar os interesses dos trabalhadores à abstracta defesa dos interesses nacionais da ‘burguesia patriótica’, que pretendem que renunciemos às nossas lutas (…).

Para os trabalhadores, defender a nação é defendermo-nos a nós mesmos. A defesa da nação deve estar vinculada à luta para melhorar as condições de vida dos trabalhadores, retirando a enorme carga da crise das suas costas e colocando-a nos ombros do capital (…).

Para garantir as nossas reivindicações e, ao mesmo tempo, defender a nação e a sua soberania, é preciso que nós, trabalhadores, nos organizemos no nosso próprio terreno, de forma independente, pois não há socialismo sem que a classe trabalhadora seja protagonista no processo de transformação económica, social e política da sociedade, assumindo a vanguarda na luta por uma verdadeira democracia, pela soberania nacional e pela ruptura completa com o imperialismo e o capital.”

 

O Manifesto pode ser lido na íntegra em: http://colectivo-eltrabajador.blogspot.com

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