Incêndio de Notre-Dame: A raiva fria dos historiadores do património

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Um gigantesco incêndio devastou Notre-Dame de Paris, uma jóia da arte gótica, edificada a partir de 1163 e até agora intacta. Os danos são enormes, o balanço dramático: o conjunto da cobertura está danificado, a totalidade da estrutura foi destruída, uma parte da abóbada e o pináculo colapsaram.

Entrevistados no dia seguinte (3ª f) pela France Info, arquitectos e historiadores de arte manifestaram a sua cólera: eles denunciaram a insuficiência das normas de segurança, o abandono dos monumentos.

Didier Rykner, o chefe de redacção da revista La Tribune de l’art, estava indignado: “Poderíamos ter evitado isto. Trata-se de um incêndio que não faz sentido! As prescrições para os trabalhos sobre monumentos históricos são insuficientes.”

Alexandre Gady, historiador de arte, expressa “uma forma de raiva fria. Numa cidade como Paris, num país que é a sexta potência mundial, tem um lado perfeitamente ridículo assistir impotente ao que se passou com a destruição deste edifício. Desde há muitos anos que afirmamos ser muito fraco o orçamento para os monumentos históricos, e que fazemos desses orçamentos uma variável de ajustamento; até que, a um dado momento, isso se transforma em graves problemas de segurança (…). O estado do património não está, de modo nenhum, ao nível de um grande país. Foram cortados os orçamentos, procuradas soluções de «mal menor», até à última – a venda ao desbarato do património. Esquecendo que a manutenção do património é um dever do Estado (…)! Ao fazer truques de toda a ordem, à direita e à esquerda, acabamos por o colocar em perigo.”

Sim, o abandono e o saque dos serviços públicos conduzem às catástrofes.

Comentando a decisão de Emmanuel Macron de apelar a donativos para financiar a reconstrução de Notre-Dame, o arquitecto Rykner sublinha: “A boa reacção teria sido dizer que o Estado reconstruirá. De facto, é ele o proprietário da catedral de Paris.”

Em vez disso, o chefe de Estado decretou uma colecta nacional.

Mal esta subscrição foi lançada, o multimilionário Pinault anunciou uma doação de 100 milhões de euros (uma soma equivalente a 0,3% da sua fortuna pessoal), imediatamente duplicada por Bernard Arnault, patrão do grupo de luxo LVMH, qui contribuiu com 200 milhões de euros. Precisão: estas somas colossais estão livres de impostos.

Não há lucros pequeninos! No seguimento, Total anunciou uma doação de 100 milhões, Bouygues, 10 milhões… Quem dá mais?

Todos os dias, este Governo ao serviço dos grandes grupos capitalistas anuncia novas vagas de privatizações, novas reduções das despesas públicas, explicando-nos que não tem dinheiro.

Na passada 2ª feira, a Direcção da Assistência Pública – Hospitais de Paris (AP-HP) rejeitou, completamente, as reivindicações do pessoal dos serviços de urgência destes hospitais, em greve para exigir meios suplementares…

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Esta nota, da autoria de Jacques Buisson, foi publicada no jornal do Partido Operário Independente (POI) francês, Informations Ouvrières (Informações operárias), nº 549, de 17 de Abril de 2019.

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