
A França encolerizada.
Em França, em Novembro de 2018, rebentou a “revolta dos coletes amarelos”. O motivo invocado foi o aumento dos combustíveis, decretado pelo governo de Macron. Já tinha havido outros aumentos, sem que tal decisão tivesse provocado idêntica revolta. O que terá motivado esta mudança brusca, esta revolta? O que é que levou estas muitas dezenas de milhares de franceses, que durante anos e anos foram reduzidos ao silêncio, a virem para a rua, a manifestarem-se, sábado após sábado, nas principais cidades de França? A população francesa atingiu o limite. E o aumento dos combustíveis, de motivo inicialmente invocado, rapidamente foi submergido pela reivindicação principal “Macron, demissão!”, que concentra a rejeição de toda a política do Governo.
O aumento dos combustíveis foi a “gota de água” que fez transbordar o copo. Saturados da devastação acumulada, os trabalhadores precários, os camponeses, os jovens, os reformados – que vivem no limiar de pobreza, que foram progressivamente excluídos dos seus direitos fundamentais, a quem os governos confiscaram milhares de milhões de euros dos seus impostos, para os enfiar, generosamente, nos bolsos dos banqueiros – fartos das políticas de austeridade dos sucessivos governos, os “coletes amarelos” disseram “Basta!”, revoltaram-se, vieram para a rua e exigiram a demissão de Macron.
Por força da nova situação criada, no seio do movimento dos “coletes amarelos” passaram a vigorar novas regras.
Os “coletes amarelos” organizaram-se espontaneamente, ocuparam rotundas, portagens de auto-estradas, agiram por si próprios, fora do controlo das organizações tradicionais (partidos e sindicatos), recusaram ter porta-vozes, recusaram sentar-se à mesa da “concertação” com os “parceiros sociais”, o que tem deixado em pânico todos os governos da União Europeia.
E actualmente – apesar da escalada da feroz repressão governamental – assiste-se a uma progressiva junção, tanto em assembleias democráticas como em manifestações, dos “coletes amarelos” com militantes sindicalistas e outros trabalhadores, pois as reivindicações centrais de uns e de outros são comuns, chocando-se com as Leis aplicadas pelo governo de Macron e as instituições ao serviço do capital financeiro.