Reino Unido: O que se passa por detrás do Brexit

Brexit Puzzle Pieces

O cronista Jorge Vicente Silva, no Público de 17 de Março, afirma: “A mais antiga democracia do mundo perdeu-se num labirinto sem fim e vem exibindo, sem parar, cenas típicas do teatro do absurdo. Mas já não se trata apenas de um problema britânico e cuja solução se encontra nas mãos dos súbditos de Sua Majestade: o «Brexit» está também a conduzir a Europa a uma situação de quase paralisia e tornou-se uma obsessão que domina todas as agendas. Para além dos inenarráveis episódios que se têm sucedido na Câmara dos Comuns (convertida em verdadeira câmara dos incomuns e virtual manicómio político), põe-se a questão de saber se o «Brexit» não se tornou um veneno fatal para a União Europeia (UE).”

Desde o referendo de 23 de Junho de 2016, em que os cidadãos do Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda) votaram globalmente a favor da saída da UE (“Brexit”) deste conjunto de países, que as mais díspares análises têm sido feitas, em todo o mundo, sobre este acontecimento.

Agora, que se aproxima a data-limite (29 de Março) para a efectivação dessa saída (e após mais duas derrotas do Governo britânico na Câmara dos Comuns), qual é a situação?

O que quer que ocorra no futuro, havendo Brexit sem acordo ou com ele, uma coisa é certa: este será o culminar de uma etapa superior no desmoronamento das instituições da União Europeia, expressão da crise de fundo do sistema capitalista.

A ofensiva para que o Partido Trabalhista apoie o Plano de May (1)

Para o capital financeiro, trata-se essencialmente de evitar a queda do Governo e a eleição de Corbyn – como fruto da rejeição pela população de decénios de destruição dos direitos operários, de privatização e de pauperização.

A demissão, em meados de Fevereiro, de 7 deputados “blairistas” (a Direita do Partido Trabalhista) visava fazer pressão sobre Corbyn, tal como o pretendia a denúncia do anti-semitismo “estrutural” do Partido. O aparelho “blairista”, que continua instalado no Partido, conseguiu que o deputado Chris Williamson fosse acusado de anti-semitismo e suspenso. Este deputado, próximo de Corbyn, faz parte dos raros deputados que se concentraram em frente ao Banco da Inglaterra para exigir a restituição do ouro venezuelano e o fim da ingerência imperialista na Venezuela.

A maioria dos deputados hostis a Corbyn utilizaram também a ameaça de novas demissões para o obrigar a apoiar a opção de um “voto popular”. Esta formulação é suficientemente vaga para que não se saiba o que na verdade significa, mas Keir Starmer – membro do gabinete de Corbyn responsável pelo Brexit – assim como o grande jornal nacional, The Guardian, vêem já nela um novo referendo sobre a saída ou não da UE.

O essencial é que isso tomaria a forma de uma emenda introduzindo um referendo no projecto de Acordo do Governo com a UE. Para adoptar esta emenda, os deputados deveriam votar a favor do Plano de May, ou pelo menos abster-se, o que a formulação da emenda torna possível. Trata-se, de facto, de uma maneira de canalizar os votos do Partido Trabalhista para o Plano de May.

 Qual é a saída?

 Os sucessivos recuos de Corbyn e a sua vontade de fazer um compromisso com a Direita “blairista” só poderiam levar a novos recuos. Com o pretexto de manter a unidade do Grupo parlamentar, é o Partido – a que aderiram, nos últimos 3 anos, muitas dezenas de milhar de sindicalistas, socialistas, trabalhadores e jovens – que está ameaçado. E o que ameaça o Partido não é a saída de alguns deputados, mas sim o regresso aos tempos de Blair e de Brown, durante os quais o Partido prosseguiu a política dos Conservadores. Com uma diferença: nas condições actuais, o Partido Trabalhista perderia as eleições, deixando os Conservadores no Governo.

Ora não é o Brexit que é responsável pelo fecho das fábricas de automóveis no Reino Unido, tal como das siderurgias ou das minas. Não é o Brexit que põe em perigo os agricultores, a produção industrial, ou as trocas comerciais e, portanto, a sobrevivência de milhões de famílias.

Os responsáveis são os que destruíram a agricultura, a indústria e os empregos, desde há 30 anos, com ou sem a ajuda da UE. São os que empobreceram todos os povos da Europa, em particular depois de 2007, ao mesmo tempo que canalizavam biliões para os bancos. Os responsáveis por esta situação são os grandes grupos do capital financeiro, que travam entre si uma guerra implacável à escala mundial, da qual os governos de todos os países – sejam eles pelo Brexit ou pela UE – constituem os aplicadores políticos.

A mobilização dos Coletes amarelos em França, a greve dos operários húngaros da indústria automóvel, as greves dos enfermeiros portugueses, as manifestações semanais da população da Sérvia, a greve geral na Bélgica, etc., são o prenúncio do levantamento dos trabalhadores e dos povos da Europa que, mais cedo ou mais tarde, abrirá a via a uma verdadeira solução. Nesta perspectiva, repetimo-lo, no Reino Unido, não pode haver saída fora do combate conjunto dos militantes do Partido Trabalhista, dos sindicatos, de todo o movimento operário, dos trabalhadores e dos jovens para derrotar os Conservadores e a sua política, por um governo do Partido Trabalhista, dirigido por Jeremy Corbyn, que rompa com as políticas ao serviço do capital financeiro.

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(1) Reproduzimos um artigo publicado, no início de Março de 2019, no Labour News,que é um Boletim editado por militantes do Partido Trabalhista (Labour Party) simpatizantes da 4ª Internacional.

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