Transcrevemos um comunicado de El Trabajo (O Trabalho), da responsabilidade da Organização Socialista dos Trabalhadores, Secção mexicana da 4ª Internacional, publicado a 21 de Outubro de 2018.
“Não somos criminosos, deixem-nos entrar, queremos trabalhar!”
Peña Nieto (1): “O México não permitirá a entrada de maneira irregular e, ainda menos, violenta”
Trump: “Enviarei o Exército para a fronteira sul”
“Não somos criminosos, deixem-nos entrar, queremos trabalhar!”, gritavam os trabalhadores migrantes hondurenhos que marcham para os EUA, ao ser atacados com gases e matracas na ponte internacional (na fronteira entre o México e a Guatemala) por polícias federais mexicanos, a 19 de Outubro.
Essa foi a resposta do governo de Peña Nieto. Contudo, ela fracassou, até certo ponto, perante a resistência e heroicidade dos milhares de migrantes das Honduras.
Trata-se de um facto sem precedentes! Milhares de migrantes não só se agruparam, mas também resistiram e enfrentaram a Polícia mexicana, negando-se a retroceder no seu propósito de cruzar o México para chegar aos EUA.
A Caminhada Migrante partiu, a 13 de Outubro, de San Pedro Sula (nas Honduras), que fica a 180 quilómetros de Tegucigalpa (a capital das Honduras). O percurso para os EUA é de mais de 4 mil e 500 quilómetros. Até agora os mais de 7 mil migrantes já cruzaram El Salvador, a Guatemala e, ontem, ingressaram no México.
As maiorias que Morena (2) ganhou nas Câmaras de deputados e de senadores não terão como tarefa legislar, de imediato, para ratificar e acentuar o direito ao livre trânsito, o direito a circular sem ser objecto de ataques dos diversos corpos repressivos do governo de Peña Nieto, garantindo tecto, alimentação e a passagem dos trabalhadores migrantes que caminham para os EUA?
Por sua vez, as organizações de migrantes, os sindicatos e organizações políticas e camponesas de todos os países envolvidos têm como tarefa unir as suas forças para proteger os seus irmãos de classe social. “Somos trabalhadores internacionais”, afirmou um dos organizadores.
Trump declarou: “Devo pedir ao México que detenha este avanço.”
Pelo seu lado, Trump lançou duras ameaças contra os migrantes e os governos do México, das Honduras, de El Salvador e da Guatemala, ao dizer: “Devo, em termos firmes, pedir ao México que detenha este avanço, e se ele não o conseguir fazer, farei apelo aos militares e encerrarei a nossa fronteira sul!”.
Em relação aos governos das Honduras, de El Salvador e da Guatemala ameaçou suspender a ajuda total de cerca de 130 milhões de dólares anuais (18 de Outubro).
Simultaneamente, aproveitou a oportunidade para atacar os seus rivais do Partido Democrata, porque faltavam menos de três semanas para as eleições intercalares nos EUA e os Republicanos temem perder a Câmara dos Deputados.
Contudo, embora o problema tenha uma dimensão eleitoral, a sua causa essencial é a política geral do governo dos EUA.
De facto, a máquina de deportação agora comandada por Trump começou a ser construída nos governos de Clinton (democrata), Bush (republicano) e Obama (democrata).
Este último, por exemplo, nos seus oito anos de governo, deportou mais de 5,2 milhões de pessoas.
Trump acrescentou medidas bárbaras contra os migrantes que vivem nos EUA, muitos dos quais temem ser detidos e deportados a qualquer momento. Trump instaurou a política de tolerância zero, separou os filhos dos seus pais e encarcerou-os.
Enviou Mike Pompeo, Secretário de Estado (3), para fazer parar a caravana de milhares de hondurenhos e ameaçar os governos do Triângulo Norte da América Central (Honduras, El Salvador e Guatemala) e do México.
Trata-se de mais um crime do governo de Peña Nieto – que o irá pagar, mais cedo ou mais tarde – atacar as famílias da América Central com gases e matracas.
Também o governo das Honduras obedeceu a Trump e Pompeo, lançando os seus polícias contra milhares de novos migrantes que pretendem unir-se à caravana.
A América Central e a migração
Tal como ocorre com os migrantes que chegam à Europa, provenientes da África e da Ásia, a responsabilidade do fenómeno das migrações massivas reside nos próprios governos imperialistas que – com as suas guerras, os seus tratados “de livre comércio”, a manipulação dos preços das matérias-primas, a desregulamentação e a privatização das empresas públicas – criaram condições de extrema pobreza em sectores cada vez mais numerosos da população, e de uma violência sem precedentes.
Na América Central as causas da migração são: a queda dos preços do café, do açúcar e de outros produtos de primeira necessidade, a violência, os tratados comerciais (como o Tratado de Livre Comércio entre a República Dominicana, os países da América Central e os EUA, assinado ente 2006 e 2009), assim como as medidas de privatização e desregulamentação aplicadas pelos governos para adaptar as economias aos interesses dos monopólios imperialistas.
A indústria incipiente e a agricultura das nações da América Central não têm dimensão suficiente para enfrentar os monopólios imperialistas que dominam o mercado mundial.
As empresas multinacionais que se instalam nos países da América Central só vão para lá para fazer lucro. E, se elas constatam que há milhões de pessoas que não podem explorar com uma determinada taxa de lucro, simplesmente consideram-nas como estando a mais e, literalmente, agridem-nas de forma violenta e expulsam-nas.
Inclusive a Venezuela – que não tinha grandes fluxos emigratórios e que, pelo contrário, recebia migrantes da Colômbia – tem agora dezenas de milhares de emigrantes, devido ao cerco económico e financeiro implantado pelo governo de Trump e, precedentemente, pelo de Obama que, mediante uma lei interna, definiu o Governo venezuelano como “uma ameaça para a segurança dos EUA”.
Nas Honduras, o golpe de Estado contra o presidente Manuel Zelaya (em Junho de 2009) e a fraude eleitoral (de Novembro de 2017) criaram uma situação de extrema violência e de falta de emprego, a qual explica a explosão social de abandono do país de milhares de trabalhadores com as suas famílias, “custe o que custe”.
López Obrador: “Um Projecto de investimentos conjuntos”
López Obrador propõe um Projecto “de investimentos conjuntos entre o México, o Canadá e os EUA para potenciar o desenvolvimento dos povos da América Central e do México, que permita estancar a migração através de desenvolvimento e emprego”.
Especificamente, “é um plano de redes de empregos, para ir retendo os mexicanos e centro-americanos nas suas cidades, nas suas regiões, de modo a que ninguém se veja obrigado a emigrar”, declarou López Obrador. “Agora, visamos a cooperação para o desenvolvimento, quer dizer, trabalho e bem-estar para os povos da América Central e do nosso país, como alternativa não coerciva ao fenómeno migratório”, indicou Obrador.
Contudo, conseguir concretizar este tipo de planos e garantir a livre circulação dos migrantes requer a acção decidida dos trabalhadores e das suas organizações, nos países implicados.
A responsabilidade das organizações dos trabalhadores e democráticas, políticas e dos migrantes
A luta para socorrer os “refugiados” – nossos irmãos de classe – está relacionada com o combate político da classe operária mexicana pela democracia e a soberania nacional, pela revogação das contra-reformas.
Por sua vez, a luta em apoio aos trabalhadores migrantes e às suas famílias só pode estabelecer-se com eficácia à escala internacional.
É necessária a luta unitária com as organizações dos trabalhadores e dos defensores dos migrantes nos EUA, para conseguir a livre circulação e para os migrantes serem recebidos nos EUA e, finalmente, para abrir caminho ao desenvolvimento económico, industrial e agrícola na América Central e no México.
No caso do nosso país, os representantes da maioria dirigida por Morena, na Câmara dos Deputados e no Senado, têm a responsabilidade de legislar sobre o problema, ratificando e ampliando o direito de livre circulação e o direito de asilo, sem as brutais restrições que são utilizadas actualmente pelo governo de Peña Nieto, submetido às ordens de Trump.
(1) O actual Presidente da República do México.
(2) Morena (Movimento de Regeneração Nacional) e a coligação de partidos que ele encabeça (Juntos faremos história) obtiveram a maioria nas Câmaras de deputados e de senadores, a 1 de Julho de 2018, ao mesmo tempo que o seu líder, López Obrador, foi eleito como novo Presidente da República, com mais de 53% dos votos. Contudo, López Obrador só tomará posse a 1 de Janeiro de 2019.
(3) O equivalente de ministro dos Negócios Estrangeiros.