
Alexis Tsipras e Jean-Claude Juncker, a 3 de Junho de 2015, em Bruxelas.
Desde o início desta semana, a imprensa internacional fez bandeira da saída da Grécia do seu “plano de austeridade”. Foi também o caso da francesa. “Crise: como é que a Grécia saiu dela”, anunciou Le Parisien. Pelo contrário, o Libération afirmou: “Fim dos planos de salvação na Grécia, mas não da crise”. É claro que na crise que atinge toda a União Europeia, sob tutela do capital financeiro, o povo grego pagou um pesado tributo aos ditames da Troika.
Se, na noite de 20 de Agosto, este país será “subtraído” à tutela dos seus credores internacionais, não é isso que resolverá a sua situação. O governo de Tsipras – eleito sobre a base de pôr fim à austeridade, que tinha levado ao esmagamento do PASOK e à vitória do Syriza – acabou por responder favoravelmente aos ditames da União Europeia. As promessas de Tsipras de 2015 saldaram-se, seis meses mais tarde, pela mesma política dos seus antecessores.
O povo grego e os trabalhadores estão a pagar um pesado tributo por causa dela. Quinhentos mil emigraram para encontrar trabalho. O salário mínimo era de 750 euros, em 2010; este ano, caiu para 586 euros e 510 euros (em geral e para os trabalhadores com menos de 25 anos). Actualmente, um terço dos assalariados trabalha, a tempo parcial, por 394 euros. As pensões de aposentação baixaram 50%, sendo o seu mínimo 345 euros. Os salários dos funcionários públicos desceram 40% e as privatizações multiplicaram-se, entregando ao capital financeiro e às multinacionais chorudos mercados para engordar os seus accionistas.
Quatrocentas e cinquenta contra-reformas foram votadas pelo Parlamento para reduzir o défice público e atacar todas as garantias colectivas dos trabalhadores.
A taxa de desemprego, que tinha subido para 28%, ainda está hoje acima dos 20% e dos 40% (em geral e para os trabalhadores com menos de 25 anos). Só 8% dos desempregados recebe subsídio de desemprego.
Tsipras – que assinou o terceiro “Plano de ajuda” para evitar que a Grécia saísse da Zona Euro – pulverizou, em contrapartida, todas as conquistas do povo e dos trabalhadores gregos. Trata-se de um Governo, como tantos outros de toda a Europa, que aplica com zelo todos os ditames da União Europeia, do FMI e do Banco Central Europeu (a Troika), instituições que estão todas unicamente ao serviço do capital financeiro internacional.
O Governo grego prevê novos cortes em 2019 e 2020, entre os quais se conta uma nova descida do valor das pensões de aposentação.
Todos os observadores informados pensam que Tsipras e o Syriza poderão sair derrotados nas próximas legislativas de 2019, “vítimas” desta austeridade nunca igualada. Um fenómeno de “varridela” que está a ter lugar em muitos países da Europa, como foi o caso da França no ano passado.
Mas, é um facto: para evitar o colapso do euro na crise que atinge as instituições da União Europeia, o alargamento do prazo de pagamento da dívida grega – que não fica isenta do pagamento de juros – entrará numa nova fase em 2032, pois foi adiada para essa data.
Neste contexto, a Grécia não é um caso isolado. Os governos de todos os países da União Europeia estão empenhados em seguir a mesma via, reduzindo todas as garantias colectivas dos trabalhadores e os direitos democráticos, a fim de reduzir os défices públicos, numa situação em que o crescimento está em queda: faltam investimentos produtivos.
Na Grécia, encerraram metade das 900 mil empresas com menos de dez assalariados. As vagas das privatizações reduziram, de maneira drástica, o número de funcionários públicos. Portanto, a Grécia continua acossada, como os restantes países da Europa. A crise da União Europeia é uma realidade. O FMI, pelo seu lado, considera que a situação na Grécia é insustentável, a longo prazo. Para ele, seria necessário que a Grécia – como os outros países europeus – continue a destruir todas as conquistas dos povos e dos trabalhadores. Mas a fragilidade dos governos e as medidas insustentáveis que eles decidem pôr em prática podem levar a amplas mobilizações que impeçam a implementação dessas políticas.
————————
(1) Transcrevemos de Informations ouvrières (Informações Operárias, semanário do Partido Operário Independente, de França) esta Nota sobre a situação actual da Grécia, da autoria de Jean-Charles MARQUISET, publicada no seu nº 517, de 22 de Agosto de 2018.