
Depois de ter indigitado Conte e, em seguida ter recusado a formação do Governo que este lhe propôs, o presidente Mattarella admite convocar novas eleições.
O programa comum do futuro Governo italiano, coligação da Liga do Norte e do Movimento 5 Estrelas, tinha sido conhecido a 18 de Maio.
De imediato, essa “solução” governativa começou a sofrer pressões de todo o lado. Por exemplo, o jornal francês Le Figaro dizia a 21 de Maio: “A coligação anti-sistema em Itália alarma a Europa”; e o jornal Le Monde de 19 de Maio, já tinha um título claro: “Porque é que Europa treme face à Itália”, e anunciava: “Estará a Europa directamente confrontada com um choque entre Roma e Bruxelas, com drásticas consequências? Os vizinhos europeus da Itália começam a entrar em pânico.”
“Pânico” não é uma palavra demasiado forte. É que a Itália – país fundador da Comunidade Económica Europeia (CEE), antecessora da União Europeia (UE) – é a terceira potência económica da União Monetária Europeia.
Ora é o Pacto de Estabilidade e de Crescimento europeu, coração do dispositivo da UE,
que está directamente ameaçado pela constituição de um novo Governo italiano.
Os alertas, de todos os lados, têm chovido desde há vários dias: «O Vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen, alertou esta semana o futuro Governo italiano contra qualquer veleidade de entorse ao Pacto europeu de Estabilidade e de Crescimento. As suas regras “aplicam-se a todos os Estados-membros da UE”, avisou o Sr. Katainen, interrogado sobre o risco de ver o Orçamento italiano derrapar. Mesmo discurso por parte do Director do FMI para a Europa, Poul Thomsen, bem como do Comissário europeu, Valdis Dombrovskis, que afirmou há alguns dias: “A Itália tem o segundo mais alto rácio da dívida na Europa, acima de 130% do PIB. Portanto, é muito claro que – em período de crescimento económico – a Itália deve colocar esta dívida numa trajectória de baixa.”
O actual Secretário de Estado italiano para os Assuntos Europeus, Sandro Gozi, pode bem lamentar-se: “No estrangeiro, os nossos parceiros subestimaram o efeito devastador da sua atitude durante a crise migratória, assim como as consequências de uma abordagem demasiado restritiva das questões económicas e dos atrasos em matéria de Europa social.”
Sim, é exactamente “o efeito devastador” das políticas europeias, em todos os domínios, que atinge hoje em cheio a União Europeia.
O pretexto que o Presidente da República de Itália invocou para não empossar o governo indicado por Conte (que ele próprio tinha indigitado) foi dele constar um ministro para a Economia e Finanças “crítico do euro e da União Europeia”.
Quaisquer que sejam os desenvolvimentos da situação em Itália, o falhanço na constituição deste Governo constitui mais uma acha para a crise da União Europeia.