Enraizamento popular do chavismo dá vantagem a Maduro
A menos de um mês da data marcada para as eleições presidenciais na Venezuela, apresentamos uma análise sobre a situação que está criada e o que está em jogo nesse importante país da América Latina. Esta análise é da autoria do nosso correspondente Alberto Salcedo, que vive em Maracaibo (cidade do norte).
As eleições de 20 de Maio, na Venezuela, têm lugar numa situação de guerra de preços, escassez de alimentos e de remédios, bem como de insegurança, à qual se soma um caos nos transportes, apagões de energia, e manipulação do câmbio do “dólar paralelo”. Tudo isto, num país cada vez mais dependente da importação de bens de primeira necessidade e de matérias-primas para a produção.
O Estado encontra-se de mãos atadas para intervir, com pouca capacidade para injectar mais recursos na economia, pois as suas reservas internacionais estão abaixo de 10 mil milhões de dólares. A produção petrolífera atingiu o seu mínimo histórico e os compromissos a pagar da dívida externa atingem 9 mil milhões de dólares em 2018. O pano de fundo é o bloqueio financeiro, imposto pelo governo de Donald Trump, que dificulta o refinanciamento da dívida e a obtenção de novos empréstimos.
A economista Pascualina Curcio indica que a Venezuela importa 64% dos remédios de que necessita. Desse total, 34% é comprado aos EUA, 10% à Colômbia, 7% à Espanha, 5% à Itália, 5% ao México e 3% ao Brasil. Quanto aos 81% de alimentos importados, 33% vêm dos EUA, 16% da Argentina, 14% do Brasil, 12% do Canadá, 3% do México, 2% do Chile e 1% da Colômbia. Assim, grande parte dos remédios e alimentos vêm de países cujos governos acabam de se reunir em Washington, com o secretário do Tesouro dos EUA, que lhes fez um apelo para reforçarem o bloqueio económico à Venezuela. No entanto, o plano do imperialismo de provocar o colapso da economia para empurrar o país para uma situação que dê pretexto a uma intervenção externa “humanitária”, até agora não foi levado até ao fim.
A resistência vai-se expressar no voto em Maduro
A Direita pró-imperialista chega às eleições dividida e acumulando sucessivas derrotas eleitorais e políticas. Poucos acreditam nos dirigentes da Frente Ampla Venezuela Livre – que reagrupa segmentos da Mesa de Unidade Democrática (MUD) como a Acção Democrática (AD), Primeiro Justiça (PJ) e Vontade Popular, incorporando também partes do que foi chamado “chavismo crítico”, para demonstrar maior abertura.
O candidato presidencial Henry Falcón decidiu aproveitar o vazio deixado por aqueles que não apresentam candidatos para apresentar a sua proposta de “dolarização da economia”. Nesse cenário, o chavismo está em vantagem. Maduro ampliou as políticas de subsídios sociais, reajustamentos salariais, aprovação de convenções colectivas e revisão das suas cláusulas económicas perante a brutal subida dos preços, medidas que, ainda que paliativas, procuram defender o povo trabalhador. Além disso, o chavismo – PSUV e aliados – chega às eleições de forma unida.
Nos bairros populares, enquanto a Direita está ausente, o chavismo está presente, através das políticas sociais do Governo, da organização popular nos Conselhos comunais, nos Conselhos locais de abastecimento e produção (CLAPS), Comunas, Colectivos sociais e “Comandos da classe trabalhadora com Maduro”. Esse enraizamento é o que permitirá uma vitória eleitoral. As eleições na Venezuela concentram a resistência ao cerco e à ofensiva do imperialismo norte-americano; por isso, vão ter impacto em todo o continente.
Votar por Maduro é defender a soberania nacional, os direitos sociais e laborais conquistados. A sua vitória eleitoral, segundo o que ele próprio diz nos seus comícios, transformou-se em condição para reverter a actual situação económica e social desastrosa, atacando as raízes da especulação e da guerra económica externa e interna.