Mentiras para justificar bombardeamento à Síria

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Macron, Trump e Theresa May, argumentos falaciosos para bombardear a Síria.

Ataque dos EUA, contra o povo sírio, com o apoio da França e do Reino Unido, é um indicador da situação mundial

Lucien Gauthier – Chefe da redacção de Informations ouvrières (Informações Operárias, semanário do Partido Operário Independente, de França, no seu número 499, de 19 de Abril de 2018) – mostra os verdadeiros motivos que levaram os EUA, a França e o Reino Unido a bombardearem a Síria.

Mais uma vez, sob a égide do imperialismo norte-americano, com o apoio da França e do Reino Unido, ocorreu um forte bombardeamento da Síria.

Donald Trump em primeiro lugar, seguido fielmente por Emmanuel Macron e Theresa May, tentou justificar a acção com uma série de argumentos falaciosos. “O ataque de Douma, nos dias 6 e 7 de Abril [pretexto para o bombardeamento – NdT], não teve até agora a sua amostra química analisada. Os elementos de prova referem-se a relatos, fotos, vídeo e testemunhos da equipa médica” (jornal “Les Echos”, 16/4). Isso não constitui de facto uma prova.

Todos têm na memória as “provas” – fornecidas pelo presidente dos EUA, George W. Bush, e pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair – sobre a existência de “armas de destruição massiva” no Iraque, para justificar a intervenção militar nesse país. Posteriormente, ficou comprovado que não havia armas de destruição massiva.

Há quem denuncie uma violação do Direito internacional a propósito desses bombardeamentos na Síria, porque a ONU não deu o seu aval. Mas de que direito internacional se fala? Quem pode crer que a ONU exprimiria algo diferente do que a realidade das relações de força mundiais? Ou seja, a dominação imperialista?

A ONU aprova, regularmente, Resoluções sobre a Palestina nunca cumpridas por Israel, que tem o apoio dos EUA. A Arábia Saudita desenvolve uma guerra contra o Iémen, com o apoio dos EUA e da França. Em 2003, os EUA não obtiveram o mandato da ONU, o que não os impediu de atacar o Iraque e destruir esse país.

Em 1990, inversamente, a coligação dirigida pelos EUA tinha obtido o mandato da ONU para atacar e destruir o Iraque. Os governos francês e britânico obtiveram, em 2011, mandato da ONU para intervir na Líbia e destruí-la. Do mesmo modo, o governo francês fez a ONU avalizar, “a posteriori”, a sua intervenção no Mali. Com ou sem ONU, a guerra imperialista continua a ser a guerra contra os povos. A ONU não passa de um covil de ladrões imperialistas.

Crise imperialista

A decisão de Trump de atacar a Síria é um indicador de toda a situação política mundial. Para aqueles que dizem que a União Europeia (UE) é uma realidade, ou que é um Directório supranacional, a intervenção na Síria repõe a verdade. Trump dirigiu-se ao Reino Unido, em vias de sair da UE, e à França, dois países que têm um Exército de guerra colonial e imperialista, como subsidiário do Exército dos EUA. Trump, assim como Theresa May ou Macron, não tem nada a ver com o povo sírio. Nem com o Iémen, com o Congo ou outros povos submetidos à guerra. É uma questão “de ordem mundial”.

Em 2013, Obama, com o apoio de Hollande [ex-presidente francês – NdT], tinha anunciado um bombardeamento da Síria para punir o regime, mas o Parlamento britânico votou contra a intervenção. Obama teve que recuar e Hollande alinhou-se com ele. “No mundo, os aliados dos EUA duvidaram da eficácia da protecção militar do seu mentor. ‘O erro foi reparado’, disse um diplomata francês” (Le Figaro, 16/4).

Desenvolveu-se uma grande crise no seio da Administração dos EUA, reflectindo as contradições da classe dominante desse país. Nesta situação, vários países, utilizando as brechas abertas, intervieram em defesa de seus próprios interesses. O Irão interveio fortemente na Síria, sem sofrer qualquer oposição por parte de Obama (ao contrário, ele assinou, juntamente com outros países, um Acordo com o Irão sobre a questão nuclear). A Arábia Saudita e Israel, aliados tradicionais dos EUA, ficaram marginalizados. A Rússia, de Putin, depois de “normalizar” a Crimeia e a Ucrânia, afirmou o seu lugar à escala mundial, ao intervir na Síria.A Turquia, fiel aliada dos EUA, interveio por sua vez em defesa dos seus próprios objetivos, em particular contra os Curdos.

Ao chegar ao poder, Trump havia reafirmado: “America first!” (América em primeiro lugar!). Ele procura, desde a sua posse, restabelecer a proeminência dos EUA na arena mundial. Há meses, ameaça a China com uma guerra comercial para que esta ceda às suas injunções, principalmente uma maior abertura aos capitais norte-americanos. Ameaça o Irão com a possível retirada da assinatura sobre o Acordo nuclear. E, com a cumplicidade dos dirigentes ingleses e franceses, em particular, desenvolve intensa campanha contra a Rússia (sanções políticas e diplomáticas, económicas, etc.). Nestas condições, a intervenção militar na Síria dirige-se, precisamente, a esses vários países que pensam poder desempenhar um papel relativamente independente. A Turquia, aliada dos russos e do Irão na Síria, compreendeu bem isso, ao declarar o seu apoio à intervenção dos EUA.

Esta vontade de Trump de restabelecer a proeminência dos EUA à escala mundial só levará a tornar o caos mais iminente.

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