Foi a todas as eleições para a AR e entrou na Constituinte. Carmelinda Pereira e o POUS dão a primeira falta em 40 anos
Rosa Pedroso Lima
Carmelinda Pereira, líder e fundadora do Partido Operário de Unidade Socialista (POUS) assume que, pela primeira vez na história da democracia, não será candidata a um lugar de deputada. A decisão foi consciente, mas não implica o fim da sua já longa carreira política. “Não morremos!”, garante ao Expresso, “estamos muito vivos e bem determinados”.
Não falhou uma única eleição legislativa. Em 1975, com apenas 27 anos e uma militância no PS, entrou nas listas do Partido Socialista como deputada constituinte. O PS ganhou e ela também. Repetiu a dose logo nas primeiras eleições legislativas e nem mesmo uma estrondosa zanga com o então secretário-geral, Mário Soares, que levaria à sua expulsão do PS, a afastou do hemiciclo. Na altura, com Soares primeiro-ministro, foi dada indicação à bancada socialista para que se votasse favoravelmente o Orçamento do Estado que permitia a entrada do FMI em Portugal. Carmelinda Pereira e Aires Rodrigues, ambos da tendência trotskista, recusaram a ordem e votaram contra. Expulsos do partido, mantiveram-se como deputados independentes, até ao fim da legislatura, em 1979 e formaram o POUS que, desde essa data, está inscrito no Tribunal Constitucional.
De então para cá, nem Carmelinda nem Aires Rodrigues conseguiram um resultado eleitoral que lhes garantisse qualquer lugar, fosse ele parlamentar ou autárquico, europeu ou regional. Mas o POUS nunca desistiu da corrida. Nas últimas legislativas, o partido pouco ultrapassou os 4 mil votos. A fasquia dos 0,08% dos resultados globais parece ser inultrapassável desde 1999. Na verdade, as eleições em que mais votos arrecadou foi no distante ano de 1980, quando, em coligação com o PST (Partido Socialista dos Trabalhadores, que viria a acabar no ano seguinte) atingiu 1,34%.
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“Apesar das dificuldades” que assumem ter, o POUS mantém-se “muito determinado” e não faz tensão de desaparecer do mapa eleitoral. Resistentes por natureza, Carmelinda Pereira e Aires Rodrigues prosseguem a atividade política e partidária. Mas, desta vez, “não quisemos contribuir para a dispersão de votos à esquerda”. O objetivo principal está concentrado na “derrota da coligação da direita” e o POUS decidiu “aceitar o apelo” lançado pelo Livre/Tempo de Avançar para uma unidade à esquerda.
Em meados de junho, Carmelinda Pereira e Aires Rodrigues encontraram-se com Rui Tavares, Ana Drago e Daniel Oliveira e “em coerência com a posição que sempre defendemos de uma frente unida de esquerda, respondemos positivamente à ideia de uma plataforma”, disse ao Expresso. A Comissão nacional do POUS aceitou esta posição e concordou, em comunicado, que “o povo quer é acabar com esta maioria, é acabar com este Governo e com esta política”, pelo que, “foi aceite o princípio de os militantes do POUS participarem nas estruturas do «Livre/Tempo de Avançar», trabalhando para a sua ligação aos trabalhadores e a todos os cidadãos”.
Não se trata de uma coligação, esclarece Carmelinda Pereira ao Expresso. Ao contrário do que aconteceu com a Renovação Comunista, os dirigentes do POUS não integram as listas de candidatos ou a direção da campanha do Livre/Tempo de Avançar às próximas legislativas. Até porque, há que “reservar a nossa posição” que, sobretudo em tudo o que toca às questões europeias, está bem distante das assumidas por Rui Tavares ou por Ana Drago.
O POUS é frontalmente contra a União Europeia. Admite que “a UE não é endireitável” e, no seu programa, propõe-se “acabar com as instituições da UE” e “com os seus tratados e memorandos”. Carmelinda assume as divergências com a nova plataforma eleitoral, mas defende que, afinal, “nestas eleições, não é a Europa que está em causa, mas o Governo”.